Pode-se usar a expressão “vítima fatal”?
Essa expressão já se tornou cristalizada no uso linguístico contemporâneo, embora seja construída em cima de uma inadequação semântica. Se observarmos as transcrições do verbete “fatal” em três de nossos principais dicionários, veremos que só um deles (Caldas Aulete) valida tal uso.
Dicionário Houaiss
Acepções
1. Que é inevitável; que ocorre como se fora determinado pelo destino.
Ex.: não havia saída, aquela progressão era f.
2. que põe termo, que mata; funesto, mortal.
Ex.: tiro f.
(mais cinco acepções).
Dicionário C. Aulete
Acepções
1. Que tem como consequência a morte, que leva à morte (tiro fatal, acidente fatal).
2. A quem sobreveio a morte (vítima fatal).
(mais cinco acepções).
Dicionário Michaelis
Acepções
1. Que causa desgraças; desastroso.
2. Que causa a morte; mortal, letal.
(mais quatro acepções)
Como vemos, há controvérsia, mesmo entre os dicionaristas, mas tal controvérsia pode ser resolvida pela lógica: quem é o agente da ação? É a ele que deve ser atribuída a fatalidade.
Em “Aquele acidente provocou vítimas fatais”, a bem da verdade, temos de considerar que o acidente é que foi fatal, não as vítimas. Assim considero que o discurso deveria ser reformulado para se ajustar às características semânticas apropriadas: “Aquele acidente foi fatal, haja vista que houve vítimas”.