Comentários sobre o uso prático da língua portuguesa. Resposta a consultas formuladas por frequentadores do Blog.
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sábado, 29 de setembro de 2018
O CABIA / LHE CABIA
O desembargador Rogério Favreto, usurpando uma
competência que não o cabia, aproveitou seu período de plantonista do
Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) para expedir um absurdo alvará
de soltura para o sr. Lula da Silva.
O uso pronome oblíquo “o” está correto?
O dicionário de verbos e regimes de Francisco
Fernandes consigna para o verbo caber, com o significado de “cumprir –
competir”, como em “Não me cabe aconselhar os mais velhos”, “Não cabe a Maria
atalhar o mal”, a regência indireta.
O pronome “o”, em função de complemento verbal, serve
apenas como objeto direto. Dessa forma, a frase correta é “usurpando uma
competência que não lhe cabia”.
terça-feira, 18 de setembro de 2018
TENHO CERTEZA DE QUE...
A advogada do médico
envolvido na morte de uma cliente declarou: “Tenho certeza que provaremos na justiça a inocência do Dr.
Fulano de Tal”.
Os advogados, jornalistas
e comunicadores em geral usam a língua como instrumento de trabalho. Não seria
pedir muito que procurassem conhecer melhor o material linguístico que lhes
proporciona o sustento e o das respectivas famílias.
No caso específico, a
palavra “certeza” é um substantivo que está a reclamar algo que lhe complemente
o sentido. Qualquer falante, diante da expressão “tenho certeza”, logo
indagaria; “Certeza de quê”? A
resposta seria o “Complemento Nominal”: “de que provaremos na justiça a
inocência do Dr. Fulano de Tal”.
Todo
complemento nominal vem regido de preposição!!!
segunda-feira, 3 de setembro de 2018
ESSE - DESSE / ESTE - DESTE
Na
frase "Senhor Ministro, em nenhum momento, pretendeu-se, portanto, usurpar
a competência desta Suprema
Corte e autorizar investigação, direta ou indiretamente, contra autoridade com
foro privilegiado", o pronome demonstrativo destacado está correto?
Corretíssimo. O pronome
refere-se a algo que ainda será nominado (Suprema Corte).
Sua função textual é catafórica, ou
seja, antecipa um termo que virá a seguir. Nessa função, os demonstrativos
devem ser “isto, este, esta, deste, desta, neste, nesta”.
Caso o demonstrativo fizer
referência a um termo expresso anteriormente, terá a função anafórica, ou
seja, repete um termo do texto, e o uso será com “isso, esse, essa, desse, dessa,
nesse, nessa”.
“Os restos mortais de
Luzia foram encontrados por historiadores em meados da década de 1970. Com mais
de 11 mil anos, os fósseis
estavam depositados na Lapa Vermelha, região da Lagoa Santa, em Minas Gerais.
Em abril de 1998, Luzia ganhou reconhecimento facial e foi possível dizer que o esqueleto, segundo
os especialistas, pertencia a uma mulher que viveu até os 25 anos. Esse reconhecimento revelou que Luzia tinha traços negroides das antigas populações africanas e
australianas”.
sábado, 18 de agosto de 2018
ADEQUA / ADEQUAR
O jornal “O Estado de São
Paulo” publicou, hoje, declarações da atriz Luana Piovani sobre sua mudança
para Portugal. O trecho final foi “Claro que isso não vai me trazer o dinheiro que
eu gasto hoje, mas a gente se adequa”.
Está certa a construção: “Claro que isso não
vai me trazer o dinheiro que eu gasto hoje, mas a gente se adequa”?
O verbo “adequar” pertence
ao grupo dos chamados “verbos defectivos”, ou seja, “verbos defeituosos”. Tais
verbos apresentam falhas de conjugação, com a ausência de algumas pessoas ou
tempos.
“Adequar” só é conjugado
nas pessoas em que o acento tônico está fora do radical. Assim, no presente do
indicativo, teremos:
- Eu (não existe)
- · Tu (não existe)
- · Ele (não existe)
- · Nós adequamos
- · Vós adequais
- · Eles (não existe)
Para resolver esse tipo de
problema, é melhor usar um verbo de significação análoga, “ajustar”, por
exemplo, “Claro que isso não vai me trazer o dinheiro que eu gasto hoje, mas a
gente se ajusta”
ou uma forma perifrástica “Claro que isso não vai me trazer o dinheiro que eu gasto
hoje, mas a gente vai se adequar”.
É preciso, também, atentar
para o fato de que o presente do indicativo é tempo primitivo e, no caso dos
verbos com defeito de conjugação, haverá, fatalmente, consequências em seus
tempos derivados (imperativo afirmativo, presente do subjuntivo, imperativo
negativo), mas isso já outra história.
quinta-feira, 2 de agosto de 2018
TRANSFORMOU LHE / TRANSFORMOU-O
“Colson
Whitehead retorna ao país que lhe transformou em escritor”
A regência do verbo “transformar”
pode ser percebida pela expressão: “transformar algo/alguém em alguma coisa”,
onde “algo/alguém” é o objeto direto e “alguma coisa” é o objeto indireto.
Ocorre que o pronome oblíquo
átono “lhe”, quando exerce a função de complemento verbal, serve, exclusivamente, de objeto indireto. O pronome
adequado à frase é “o” que, nas mesmas circunstâncias, serve como objeto
direto.
“Colson
Whitehead retorna ao país que o transformou em escritor”.
sexta-feira, 6 de julho de 2018
MEIO / MEIA
“A
ENTREVISTA FOI MEIA
COMPLICADA, TANTO DA PARTE DAS PERGUNTAS QUANTO DAS RESPOSTAS”
A palavra meio
está intensificando o adjetivo — COMPLICADA
—. Nesse caso é um advérbio, não tendo, portanto, flexão de gênero e número.
Para saber se meio
é advérbio, basta substituí-lo por outro advérbio de intensidade. Por exemplo,
coloque a palavra MUITO no lugar de meio. Se a frase continuar aceitável
gramaticalmente, é sinal de que MEIO é advérbio.
“A
ENTREVISTA FOI MUITO
COMPLICADA, TANTO DA PARTE DAS PERGUNTAS QUANTO DAS RESPOSTAS”
A frase está perfeita, portanto deveremos corrigir a
primeira, deixando-a assim:
“A
ENTREVISTA FOI MEIO
COMPLICAD,A TANTO DA PARTE DAS PERGUNTAS QUANTO DAS RESPOSTAS”
Se não for possível substituir meio por MUITO, então meio
pertencerá a outra classe gramatical e flexionará normalmente em gênero.
- Ele bebeu meia garrafa de vinho = Ele bebeu metade da garrafa.
- Basta-me meia xícara = Basta-me metade da xícara.
- Ele prometeu comer meio (a metade) queijo, meia (a metade) rapadura e meio (a metade) metro de linguiça.
segunda-feira, 2 de julho de 2018
CHEGOU A HORA DE A ONÇA BEBER ÁGUA
O
jornal O Estado de Minas publicou a seguinte chamada para uma matéria
esportiva: “Será a primeira chance dos torcedores verem de
perto os novos reforços”. Está
correta?
Há um erro elementar, mas
recorrente em textos de pessoas inexperientes no uso da língua.
Qual é o sujeito do verbo “verem”?
Quem verá os novos reforços? Evidente que serão os torcedores a quem será dada a chance de vê-los...
Há uma regra fundamental
no estudo da Gramática da Língua Portuguesa: “O sujeito é O TERMO REGENTE POR
EXCELÊNCIA”, isto é, ele é o principal termo da oração e não se sujeita a
nenhum outro termo.
Observando-se a
oração da consulta, vê-se que o sujeito está regido da preposição “DE” – chance dos
torcedores verem — onde “dos”
equivale à contração (DE + OS).
As preposições são elementos de ligação que servem para estabelecer o
domínio de um termo (regente) sobre o outro (regido).
Antes do sujeito não pode haver preposição, nem mesmo em contrações...
Assim, o correto é dizer que “Será a
primeira chance de os torcedores verem de perto os novos reforços”.
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