Professor,
em “Fábio reclamou bastante que tinham
duas bolas em jogo”, o emprego do verbo “ter” está correto?
No
registro formal culto, o verbo ter não deve ser usado com o sentido de
“existir”, “haver”, “ocorrer”. Como verbo principal de uma frase, seu emprego
deve sempre relacionar um possuidor (sujeito) a algo possuído (objeto).
- Eu
tenho um livro.
- Maricota
tem dois cachorros.
- Adolescentes
costumam ter cravos e espinhas.
Na
frase da consulta, “Fábio reclamou bastante que tinham duas bolas em jogo”, se perguntarmos ao verbo “quem tinham
duas bolas”, não teremos uma resposta lógica e efetiva, logo não há sujeito
explícito (e muito menos implícito).
Seria
o caso de um sujeito “indeterminado”? Também não, pois nesse fato gramatical
existe o sujeito, mas o autor não quer ou não se interessa em expressá-lo...
Seria
o sujeito a expressão “duas bolas”? Também não, pois duas bolas não podem ter duas
bolas...
O
que ocorre, finalmente, é que o autor da frase usou o verbo ter com o mesmo sentido de “haver” impessoal e, ainda
por cima, equivocou-se na concordância verbal, fazendo o verbo concordar com o
objeto direto.
O
correto, portanto, é “Fábio reclamou bastante que havia duas bolas em jogo”.
O autor da frase, com certeza,
inspirou-se no saudoso locutor Luciano do Vale, que não se cansava de dizer que
“tinham dois jogadores impedidos”...