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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ESTE OU ESSE?

CONSULTA

Este ou esse?
“O projeto será examinado por uma comissão. Esta comissão tem a incumbência de definir sua viabilidade e apresentar suas conclusões por meio de um relatório. Este relatório será enviado a todos os interessados no desenvolvimento das ações propostas.”

São frequentes as dúvidas causadas pelo emprego dos pronomes demonstrativos “este” / “esse” e suas variações.

Tais pronomes demonstrativos funcionam como determinantes de nomes (substantivos – adjetivos – advérbios), que já foram ou serão citados no discurso (texto / fala). De uma forma geral, a “posição” que tais termos ocupam é que determina se devemos usar “st” ou “ss”.

O pronome demonstrativo será um “anafórico” se apontar para algo que já foi mencionado e, nesse caso, deverá ser grafado com “ss”; será um “catafórico” se antecipar algo que ainda será dito e, então, deverá ser grafado com “st”.

No fragmento em epígrafe, o termo comissão, linha 1, é retomado na linha 2 e o demonstrativo deveria ser escrito com “ss”; o mesmo ocorre com o termo relatório, na linha 4.

Pode ocorrer a retomada de uma ideia com outro termo, o que também leva ao uso das formas com “ss”, como em “ofendiam-se, brigavam com os colegas e desrespeitavam os professores que os repreendiam. Lamentavelmente, esse comportamento era relevado pela direção da escola”.

Os pronomes demonstrativos com “st” referem a algo que ainda será dito adiante. Por exemplo: “O fato é este: a gestão das escolas tem de ser exercida por diretores profissionais”.

domingo, 14 de novembro de 2010

USO DO INFINITIVO



“O síndico quer impedir as crianças de brincar (ou de brincarem)”?

RESPOSTA
As duas formas são gramaticais.

O infinito pessoal, flexão verbal do infinitivo, que também se verifica no dialeto galego, de fato não existia no latim. Sua origem é discutível: uns reputam-no criado em português, flexionando o infinitivo impessoal; outros, originado no imperfeito do conjuntivo latino.

Para muitos gramáticos, o uso do infinitivo flexionado apenas tem relevância contextual, na medida em que se quer precisar o sujeito da ação descrita pelo verbo, mormente nos casos dos verbos causativos (deixar, mandar, fazer).

O uso do infinitivo pessoal é uma forma própria e estilística da língua portuguesa.

Em “Representa um claro benefício para os alunos que têm a vantagem de estudar na rede pública” e “Apareceu uma rede de lojas, a dominar, o comércio de confecções”, não há qualquer incorreção gramatical. Elas revelam o estilo próprio dos autores.

Se a primeira frase fosse: “Representa um claro benefício para os alunos que têm a vantagem de estudarem na rede pública...”, haveria um maior relevo para “os alunos”. Se a segunda frase fosse “Apareceu-me uma rede de lojas, a dominarem o comércio de confecções...”, haveria mais dinamismo na descrição porque reforçaria a dinâmica de “lojas”.

Cabe, portanto, a cada um escolher a forma que prefere. Eu prefiro o uso do infinitivo não flexionado, por parecer-me mais “enxuto” e, por isso, tornar o texto mais leve.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

HAJA VISTA / HAJAM VISTA


CONSULTA: Está correta a expressão "Haja Visto as palavras que proferiu.”?

        Não. A expressão correta é: “Hajam vista as palavras que proferiu.

        Na expressão "haja vista", vista é substantivo feminino e mantém-se inalterável. Funciona como objeto direto.  O verbo haver é pessoal e concorda em número e pessoa com o sujeito, no caso, palavras. 

Exemplos:

Haja vista o comportamento dele.
Hajam vista suas afirmações.

Resumindo: o verbo haver concorda com a expressão que vier depois de vista:

·    Haja vista a vitória conseguida.
·    Hajam vista as vitórias conseguidas.
·    Haja vista o erro cometido.
·   Hajam vista os erros cometidos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Presidente ou Presidenta?










É fatal que agora surja o questionamento: Qual é a forma correta “presidente” ou “presidenta”?

O termo é um substantivo comum de dois gêneros. Tais substantivos apresentam uma só forma para os dois gêneros, fazendo a distinção entre o masculino e o feminino pelo gênero do artigo. Para esse substantivo, o Dicionário A. Houaiss registra as seguintes acepções:
1.     indivíduo que preside (algo).
2.     indivíduo que dirige os trabalhos numa assembléia, 
       congresso, conselho, tribunal etc.
3.     título oficial do chefe do governo no regime 
       presidencialista.
4.    título oficial do chefe da nação nas repúblicas  
      parlamentaristas.
5.   título que às vezes se dá ao dono ou ao diretor-geral 
     de uma empresa, clube, banco etc.

Adjetivo de dois gêneros (1664) — que preside, que dirige.

Se é “comum de dois gêneros”, não há por que duvidar-se de que o uso formal deva ser “presidente”, não importa se quem exerce o cargo seja “homem” ou “mulher”. Aliás, é bom que se diga que o gênero gramatical não deve ser confundido com o gênero biológico. São coisas diferentes! Ninguém duvida, por exemplo, de que “pedra, rocha, árvore, bílis, fé, inteligência, linfa, visão e água” sejam do gênero feminino, mas também ninguém aceitaria dizer-se que tais nomes sejam do sexo feminino, ou seja lá que sexo for.
O gênero gramatical é atribuído aos nomes que designam os animais (machos e fêmeos) e as coisas concretas, abstratas, naturais ou ideais. (usei fêmeo porque o adjetivo está alterando o substantivo “animais”, indiscutivelmente do gênero masculino).

O Dicionário Houaiss registra que “também é usado presidenta”, na última linha do verbete, quase que a pedir desculpas por ter se lembrado disso. Afinal, para usar-se “presidenta” seria necessário apenas que se modificasse a classificação de “comum de dois gêneros” para “substantivo comum” e a celeuma estaria desfeita.

Pode-se usar, portanto, uma ou outra forma, mas o corretíssimo, o tradicional, o vernáculo, sem qualquer preocupação com o “politicamente correto” é “presidente”.

domingo, 31 de outubro de 2010

Silepse de Pessoa


No último debate dos presidenciáveis, o apresentador falou; “Os brasileiros temos um compromisso com as urnas...”. Isso está certo? O sujeito “Os brasileiros” é da 3ª pessoa do plural?

A resposta às duas indagações é que a frase do apresentador está absolutamente certa.

A regra básica da concordância verbal é que “o verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa”. Existem, entretanto, casos especiais de concordância, a maioria deles para dar um “colorido” especial ao discurso, os chamados efeitos estilísticos. Na frase da pergunta, o sujeito é da 3ª pessoa do plural (Os brasileiros) e o verbo (temos) está na 1ª pessoa do plural, porque o emissor também se inclui dentro do universo representado pelo sujeito, isto é, ele também é brasileiro.

Esse é um tipo de concordância especial, chamado de “Silepse de Pessoa”. O verbo não faz a concordância gramatical, mas uma chamada “concordância ideológica”.

Existem mais dois tipos de silepse que serão abordados em outra oportunidade.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

REGÊNCIA VERBAL - GOSTAR


CONSULTA – GOSTAR
A regência do verbo gostar está certa em “Continuar fazendo o que ele mais gosta.”?

RESPOSTA

O verbo gostar é transitivo indireto e exige complemento regido da preposição “de”.
·        Gosto muito de melão.
·        Ela gostava de mim.
·        Fidêncio gosta de estudar Latim.
·        O abacaxi não gosta de climas frios.
·        Não gostaram da ideia.

Com complemento oracional, pode aparecer sem a preposição, como no período “Eu gosto que os soldados da república, antes de valorosos, sejam honrados.” (Camilo Castelo Branco, Padre Dinis, I, 112).
Por aí se vê que a oração da consulta está correta, no entanto muitos autores a escreveriam com a preposição antes do pronome relativo que: “Continuar fazendo o de que ele mais gosta.” e estariam certos.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

VERBO PERDOAR


Qual é o correto: “Perdoai as nossas ofensas”, ou “Perdoai-nos as nossas ofensas”, uma vez que, no verbo perdoar, perdoa-se alguma coisa ou a alguém?
RESPOSTA:
O verbo perdoar seleciona três argumentos: o sujeito (quem perdoa), o objeto direto (o que se perdoa) e o objeto indireto (a quem se perdoa).
Na segunda frase — perdoai-nos as nossas ofensas — ambos os complementos verbais estão presentes:
— Objeto direto — as nossas ofensas;
— Objeto indireto — nos
Na primeira frase — “perdoai as nossas ofensas” — a omissão do complemento indireto é validada pela presença do possessivo nossas, que nos dá essa informação (perdoai as nossas ofensas = perdoai as ofensas a nós).
Por conseguinte, ambas as frases são corretas.

Gostaria de acrescentar o seguinte:
A função adnominal de “as nossas” é a de “determinar” o substantivo “ofensas”. A gramática tradicional diz que a presença do artigo antes dos pronomes possessivos é opcional.
Pergunto: há realmente necessidade de se usar dois determinantes para o mesmo nome (substantivo)?
Sempre que escrevo, evito usar superabundância de elementos textuais. Dizem os entendidos, e concordo com eles, que uma das tarefas mais difíceis para quem escreve é “cortar” o desnecessário.