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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CONCORDÂNCIA COM PORCENTAGEM

A frase “80% dos brasileiros está descontente com o trânsito” está certa?
 
Não.
 
 
O sujeito representado por uma porcentagem em que a parte numérica é maior que 1 faz com que o verbo vá para o plural. Também o complemento plural, “brasileiros”, contribui para essa concordância.
O correto é “80% dos brasileiros estão descontentes com o trânsito”.
Quando o sujeito é uma porcentagem, seguida de um modificador, o verbo concordará com a porcentagem ou com o modificador (substantivo – pronome demonstrativo – pronome possessivo - etc.). É bom que se diga que a concordância “gramatical” é com o numeral da porcentagem e que a concordância com o complemento é mais próxima da linguagem coloquial. Assim, o uso de uma ou outra dependerá da preferência do falante e do contexto.
·    90% do procedimento criminoso enquadram-se no tipo de “continuidade delitiva”;
·    45% do corpo docente constitui-se de profissionais sem qualquer conhecimento pedagógico formal.
Nota: Existe a chamada “concordância siléptica”, em que o verbo concorda ideologicamente com o complemento da porcentagem: “No ataque ao inimigo, 10% do batalhão foi morto ou ferido”. A concordância aqui foi feita com o coletivo “batalhão”. Esse tipo de concordância, entretanto, é desaconselhado em textos jornalísticos, por demandar um conhecimento linguístico nem sempre presente no grande público.

ENTREGUE / ENTREGADO

Escreve-se “documentos anteriormente entregues pelo Departamento”, ou “documentos anteriormente entregados pelo Departamento”?

A norma indica o uso do particípio irregular — entregues —, pois trata-se de caso de uma construção passiva: “documentos ‘que foram’ anteriormente entregues pelo Departamento”

 Deveríamos usar “entregado”, se a frase estivesse na voz ativa, com o verbo auxiliar ter: “documentos que o Departamento tinha entregado anteriormente”.

Nota: Sobre o uso dos particípios (regular e irregular) dos verbos de duplo particípio, Celso Cunha e Lindley Cintra, em sua Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Sá da Costa, 2001, p. 441), dizem-nos que: “De regra, a forma regular emprega-se na constituição dos tempos da VOZ ATIVA, isto é, acompanhada dos auxiliares ter ou haver; a irregular usa-se, de preferência, na formação dos tempos da VOZ PASSIVA, ou seja, acompanhada do auxiliar ser.”