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quarta-feira, 20 de julho de 2016

DE VÍRGULAS E POSSESSIVOS...

Acho que estão faltando algumas vírgulas neste texto: “Na mesma data em que seu irmão Antônio Junqueira Vilela Filho e seu marido Ricardo Viacava tiveram mandados de prisão emitidos na operação Rios Voadores...”.

E você tem razão. Da forma como está fica meio difícil saber quem é marido de quem... Os termos “Antônio Junqueira Vilela Filho” e “Ricardo Viacava” são o que a Gramática chama de “aposto explicativo”, que tem, como o próprio nome indica, a função de explicar o termo a que se refere. Tais apostos devem vir obrigatoriamente isolados por vírgulas. “Seu irmão, Antônio Junqueira Vilela Filho, e seu marido, Ricardo Viacava, ...”.

Além disso, o uso do possessivo “seu” também pode confundir o leitor, levando-o a acreditar que Ricardo Viacava é o marido de Antônio Junqueira, fato nada estranho na modernidade...

Sugiro que o texto seja modificado com a inclusão do advérbio “respectivamente” e a mudança da ordem dos termos. “Na mesma data em que Antônio Junqueira Vilela Filho e Ricardo Viacava, respectivamente seus irmão e marido, tiveram mandados de prisão emitidos na operação Rios Voadores...”.

domingo, 10 de julho de 2016

CACÓFATOS

Causou grande hilaridade a citação, na Comissão do Impeachment do Senado Federal, ao “renomado jurista” Thomás Turbando... Afinal, o que é o cacófato?

Cacófato é a palavra ou expressão ridícula ou obscena resultante da união de sílabas de palavras vizinhas: "É de pôr com a mão", "Tirei da boca dela", "Não pensei nunca nisso", "Quero a mala" e "A empresa é dirigida pela dona do 1º andar". Há casos de cacófatos internos ou intravocabulares, em que as sílabas da mesma palavra podem ser lidas de maneira separada de modo a produzir novas formas, inconvenientes: "É mulher que se disputa (se diz puta)". Desfaz-se o cacófato mediante mudança da ordem das palavras ou sua substituição.

A cacofonia constitui-se em um dos chamados vícios de linguagem e deve ser evitada, tanto na linguagem coloquial quanto na escrita.

Exemplos

Maluf nunca ganhou.
Ela tinha muito jeito
Dê-me uma mão, por favor.
Vou-me já, pois estou atrasado.
Eu amo ela demais.
A moça fada ganhou o prêmio.
Decreto presidencial confisca gado de produtores.
Um real por cada boi.
O presidente da mesa havia dado por encerrada a votação.
As candidatas, como as concebo, devem atender a todos os requisitos do edital. 

terça-feira, 21 de junho de 2016

REPATRIADOS DO EXTERIOR

Uma emissora de televisão transmitiu a seguinte notícia: “Os 79 milhões de reais foram repatriados do exterior...” e pareceu-me que ocorre uma impropriedade linguística. 

Está correto?

A frase contém uma redundância, pois o dinheiro não poderia ter sido “repatriado” se não estivesse no exterior, não é verdade”? É o mesmo que dizer “todos foram unânimes em discordar”; “dividir em metades iguais”; “encarar de frente”; “exportar para fora”; “teve a cabeça decapitada”; “amanhecer o dia”...

terça-feira, 14 de junho de 2016

CIZÂNIA / CIZANIA

Li em um jornal esse texto: “Nós engolimos muita coisa em nome do governo, de apoiar o governo, de estar do lado do governo, de não criar cizânia para não aproveitarem uma eventual divergência”. Está certa a grafia? A pronúncia é mais forte no /a/ ou no /i/?

Os dicionários registram o significado: falta de harmonia; desavença, rixa, discórdia.

A grafia está correta. Trata-se de palavra paroxítona terminada em ditongo crescente (semivogal “i” seguida de vogal “a”). As semivogais são sempre átonas e não podem, por conseguinte, receber acento de qualquer espécie. 

O acordo ortográfico manda acentuar graficamente a vogal tônica dos vocábulos paroxítonos terminados em ditongos orais ou nasais, crescentes ou decrescentes: sótão – órgão – espécie – história – glória – fósseis (plural de fóssil) – amáveis...

A pronúncia é com o acento tônico no “â”: CIZÂNIA.

terça-feira, 31 de maio de 2016

PODE MISTURAR / PODEM MISTURAR

E a concordância verbal continua causando estragos.

Uma conhecida figura da cena política fez a seguinte declaração: "Não se pode misturar direitos previdenciários e assistenciais". Está certo?

Não. Ocorre um erro crasso, primário...

O sujeito da locução verbal “poder misturar” é “direitos previdenciários e assistenciais”. Basta fazer a pergunta clássica: “O que não se pode misturar”? A resposta é o sujeito.

A um sujeito plural corresponde sempre um verbo plural. "Não se podem misturar direitos previdenciários e assistenciais".

Elementar, meu caro consulente.

terça-feira, 24 de maio de 2016

CONSERTÁ-LO-EI / VÃO FALÁ...

Vi, hoje, um apresentador da Globo News criticar o uso da mesóclise pelo Michel Temer: "Se eu cometer um erro e percebê-lo, consertá-lo-ei". Os demais participantes riram gostosamente e fizeram caras e bocas.

Em seguida, o dito apresentador lascou: "Vão falá agora de política americana", e começou a apresentar seu arrazoado. Daí eu deduzi que o "vão" vale por "vamos" e o "falá" vale por "falar"... 

Nenhum de seus parceiros de bancada estranhou... É que pimenta nos olhos dos outros é refresco...

quarta-feira, 18 de maio de 2016

250.000 CONSULTAS

Para nossa alegria, ultrapassamos, ontem, a marca das 250.000 consultas feitas ao blog. Essa marca reforça nosso desejo de continuar a prestar ajuda, sempre sem qualquer interesse financeiro, a quem necessita de auxílio em Língua Portuguesa.
Nosso muito obrigado a todos os consulentes...

CHEGAR A / CHEGAR EM

Confúcio apoia taxistas após chegada do Uber em Xangai. Devo dizer “chegar em” ou “chegar a”?

Os verbos de movimento, quando trazem a acepção de “em direção a algum lugar”, regem a preposição “a”. Portanto “chega-se a algum lugar” e não “em algum lugar”.

Confúcio apoia taxistas após chegada do Uber a Xangai.

sábado, 30 de abril de 2016

GOSTAR DE / É GOSTADO DE

Li esta frase em um jornal de circulação nacional e achei muito estranha forma verbal passiva. Está certa? “Mercadante não é especialmente gostado no meio político”.

Você está coberto de razão. O verbo “gostar” é transitivo indireto, isto é, exige que seu complemento venha regido da preposição “de”. Quem gosta, gosta DE alguém ou de alguma coisa.

Os verbos transitivos indiretos não admitem a voz passiva, pelo simples fato de que o sujeito da voz PASSIVA é o objeto direto da voz ATIVA.
  • Comi um saboroso pastel. / Um saboroso pastel foi comido.
  • Vendi meu apartamento. / Meu apartamento foi vendido.
  • Atacaram o parlamento. / O parlamento foi atacado.
  • Ouviram atentamente o orador. / O orador foi ouvido atentamente.
O meio político não gosta de Mercadante especialmente. / Se tentássemos passar para a voz passiva, o sujeito ficaria regido da preposição “DE”, o que não é possível, pois o sujeito jamais aceita a regência...

segunda-feira, 18 de abril de 2016

SE OBSERVE / SE OBSERVEM

O jornal Folha de São Paulo publicou uma reportagem em que há o trecho: “O que não pode acontecer é que não se observe as regras constitucionais, disse a ministra”.

– Parece-me que a concordância do verbo “observar” não está correta.
– E você está certo.

O sujeito do verbo “observar”, no caso, é o substantivo feminino plural “as regras constitucionais”. Basta transformar a oração “que não se observe as regras constitucionais, disse a ministra” em uma oração passiva analítica para se perceber com clareza: “O que não pode acontecer é que as regras constitucionais não sejam observadas, disse a ministra”.

Assim, a frase correta é “O que não pode acontecer é que não se observem as regras constitucionais, disse a ministra”.

terça-feira, 12 de abril de 2016

DAS PERGUNTAS / DE AS PERGUNTAS

Na frase: “Não acreditem nos conselhos de quem tem todas as respostas mesmo antes das perguntas existirem”, a contração da preposição com o artigo está correta?

Não. O substantivo “perguntas” é o sujeito do infinitivo “existirem” e o sujeito não admite ser regido de preposição. 

O correto é “antes de as perguntas existirem”, assim como:

  • É hora de o noivo chegar.
  • Apesar de o amigo tê-lo convidado.
  • Depois de esses fatos ocorrerem.
  • É hora de a onça beber água.

quinta-feira, 24 de março de 2016

IMPEDEM OU RETARDAM / IMPEÇAM OU RETARDEM

No trecho: “Esta compreensão pode levar ao desenvolvimento de produtos que impedem ou retardam o aparecimento de cabelos brancos. Isto, claro, para quem não gosta dessa caraterística” o uso do presente do indicativo dos verbos em destaque está correto?

O texto não faz uma afirmação peremptória e definitiva sobre o sucesso ou fracasso da compreensão no desenvolvimento dos produtos. Tal compreensão pode levar, ou não, ao desenvolvimento... Essa dúvida faz com que usemos o verbo no modo subjuntivo e não no indicativo.

Assim, o correto é: “Esta compreensão pode levar ao desenvolvimento de produtos que impeçam ou retardem o aparecimento de cabelos brancos”.

quarta-feira, 9 de março de 2016

HAVER / HAVERÃO

Na Folha de São Paulo de hoje, encontrei este texto: “Velhos amigos e novos artistas dividirão com ele o palco -Ivan Lins, Mutinho, Paulo Ricardo, Tiê, Anna Setton e Verônica Ferriani. Também haverão gravações externas, com João Bosco, a pianista Eliane Elias e a violoncelista francesa Ophélie Gaillard”. 

Minha dúvida refere-se à correção da flexão do verbo “haver”.

O uso do verbo “haver” no plural está, evidentemente, equivocado. Esse verbo integra o rol dos chamados verbos impessoais, que não se flexionam, sempre que ocorrer com o mesmo significado de “existir”.

O correto, portanto, é “Também haverá gravações externas...”.