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terça-feira, 3 de março de 2015

AMBIGUIDADE

“O governador Geraldo Alckmin, decretou, nesta quinta-feira o fim do prazo de espera para a retomada das obras da linha 4-amarela do metrô. Alckmin disse que as multas e advertências possíveis foram aplicadas ao consórcio Isolux-Corsan-Corviam.
Desacreditado, o governador disse que ‘não tem mais jeito’ e que uma nova licitação será feita até o fim do semestre”.
O termo em destaque refere-se a quem?
O autor imaginou que o contexto incumbir-se-ia de desfazer a ambiguidade evidente, pois, da forma como está, o “desacreditado” tanto pode ser o consórcio como o próprio governador.
Quando escrevemos, devemos ter em mente o leitor de nosso texto. Ele é a peça mais importante no processo desencadeado com o ato de escrever. Se o leitor não conseguir decodificar bem a mensagem, perderam-se os tempos do emissor e do receptor, pois não ocorreu a comunicação, logo, para que serve o texto? Para nada, evidentemente.
O mais interessante é que, neste texto, a ausência do termo destacado seria suficiente para desfazer a ambiguidade. Basta tirar o “desacreditado” para o consórcio tornar-se desacreditado, na visão do governador. 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

PLURAL DE POMBO-CORREIO

Como é feito o plural dos compostos do tipo “pombo-correio”, “navio-escola” e “fazenda-modelo”?

Os substantivos compostos ligados por hífen, em que o segundo elemento especifica o primeiro, fazem o plural com a flexão apenas do primeiro elemento formador:
·  
  1. substantivo + preposição clara + substantivo = água-de-colônia e águas-de-colônia;
  2. substantivo + preposição oculta + substantivo = cavalo-vapor e cavalos-vapor;
  3. substantivo + substantivo que funciona como determinante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do termo anterior.

Exemplos:
·        navio-escola / navios-escola
·        palavra-chave - palavras-chave
·        rádio-relógio - rádios-relógio
·        notícia-bomba - notícias-bomba
·        homem-rã - homens-rã
         peixe-espada - peixes-espada

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A COMPONENTE / O COMPONENTE

Li em um jornal a frase “A decisão sobre haver racionamento, ou não, tem uma forte componente política” e fiquei confuso quanto à concordância nominal com o substantivo “componente”. Ele é masculino ou feminino?

O termo “componente” pode ser adjetivo ou substantivo. Em qualquer das duas classes, ele é o que a Gramática Normativa chama de “comum de dois gêneros”, isto é, serve para o masculino ou para o feminino, fazendo a distinção genérica por meio do artigo, no caso específico o artigo indefinido feminino “uma”.

É de se notar, entretanto, que, no Brasil, os falantes usam preferencialmente como se fosse do gênero masculino.

Um forte componente político / o componente social / o componente hídrico da prestação de serviços / etc.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

SOCIOECONÔMICO / POLÍTICO-ECONÔMICO

Qual é a razão de escrever-se “socioeconômico” e “político-econômico” sem e com o hífen, respectivamente?

Porque “socio” é um falso prefixo e somente será escrito com o hífen se estiver antes de palavras começadas com a mesma vogal final [o] ou com a letra [h]. Já em “político-econômico”, temos um tipo de formação de palavras por justaposição, em que os elementos formadores são de natureza nominal (ambos são adjetivos) que mantêm sua independência fonética e significativa, ao formar uma terceira unidade semântica.

Por isso escrevemos socioeducativo; sociocultural; socioambiental; sociobiologia; sociocracia; sociodrama. E, por outro lado, grafamos político-administrativo; político-econômico; político-religioso; político-social...

É bom não confundir o pseudoprefixo “socio”, semanticamente ligado a “social”, com o substantivo “sócio”: aquele que participa de uma sociedade: sócio-gerente; sócio-diretor; sócio-torcedor...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A VÍRGULA E A AMBIGUIDADE

“Filho de brasileira, que se uniu ao Estado Islâmico, pode levar até cinco anos de cadeia”.

Quem se uniu ao Estado Islâmico? O filho ou a mãe?

Da forma como está escrita a frase, o pronome relativo “que” refere-se à totalidade do termo imediatamente anterior. A oração “, que se uniu ao Estado Islâmico,” é uma adjetiva explicativa que remete para esse termo (Filho de brasileira). Se eliminarmos a oração entre vírgulas, o sentido do fato principal – a possibilidade da pena – é preservado.

O contexto histórico informa o leitor sobre a realidade dos fatos. Quem praticou o ato de “unir-se” foi o rapaz e não a mãe. Isso está nos jornais e nos noticiários do rádio e da televisão.

Para mudar o fato e a gramática, basta que se eliminem as duas vírgulas. “Filho de brasileira que se uniu ao Estado Islâmico pode levar até cinco anos de cadeia”. Pronto! A oração transformou-se em adjetiva restritiva e passa a referir-se exclusivamente ao termo “brasileira”.

Surge então outra dúvida: quem levará a pena? O filho ou a mãe?

Se o filho for punido, o será por ser filho de uma mulher que se uniu ao Estado Islâmico... É uma profunda incoerência!

Para que os leitores não tenham a menor dúvida sobre o significado do texto, seria melhor reformular para:

“Rapaz que se uniu ao Estado Islâmico, que pode ser condenado a cinco anos de prisão, é filho de mãe brasileira”.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

SOB / SOBRE

Ficou "sobre" a mira do assaltante. Está correto?
Sobre equivale a em cima de ou a respeito de
Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação.
Sob é que significa debaixo de: 
Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se sob a cama.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

QUASE LINCHADO?

“Motorista embriagado atropela quatro pessoas e quase é linchado na Bahia”.

Posso usar o verbo “linchar” sem que haja o óbito da vítima do linchamento?

Assim como mulher alguma fica “quase grávida”; nenhum condenado é “quase culpado”; não há gol “quase validado” e ninguém é “quase honesto”, “quase linchado” é uma impropriedade semântica.

O significado principal de "linchar" é o de um grupo de pessoas "executar o suspeito, sem julgamento". Por extensão de sentido, pode ser usado, figurativamente, como em "linchamento moral"; "linchamento político".

No caso específico de "agressão física a um suspeito, praticada por grupo ou multidão" eu preferiria usar "tentativa de linchamento", quando não ocorresse o óbito da vítima.

“Motorista embriagado atropela quatro pessoas e sofre tentativa de linchamento na Bahia”.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

MANTER / MANTIVER / INFRAESTRUTURA

Encontrei esta afirmação em um jornal: “Se o governo não manter uma política de austeridade nas contas públicas, nunca conseguiremos resolver o problema dos investimentos em infra-estrutura”. 

Ela está correta?

O texto da consulta apresenta dois problemas.

    a.   A conjunção subordinativa condicional “se”, que inicia o texto, instaura uma cláusula de “condicionalidade”, ou seja, é preciso que haja a austeridade nas contas públicas para que se façam os investimentos. O verbo “manter”, em razão dessa “condicionalidade”, deve ser conjugado no modo subjuntivo: “mantiver”.

    b.   Não existe o hífen em “infraestrutura”. Prefixos terminados em vogal só aceitam o hífen antes de palavras iniciadas com a mesma vogal ou com a letra “h”.

O correto, portanto, é “Se o governo não mantiver uma política de austeridade nas contas públicas, nunca conseguiremos resolver o problema dos investimentos em infraestrutura”.

sábado, 31 de janeiro de 2015

SUJEITO MAIS DE UM / MAIS DE UMA

Li em um jornal o texto a seguir e pareceu-me que a concordância verbal não está correta. Sujeito “mais de um” pede o verbo no singular ou no plural?

Os procuradores da República que investigam o escândalo avisam que mais de uma empresa podem propor pacto com o Ministério Público Federal, mas esses acordos somente serão firmados individualmente.”

Realmente a expressão “mais de um” pede o verbo na 3ª pessoa do singular

a) Mais de um candidato burlou ou burlaram as eleições?
b) Mais de um amigo veio ou vieram ao jantar oferecido pela empresa?

A resposta é simples: Use o singular!

Assim, retomando as orações acima, o correto é:

a) Mais de um candidato burlou as eleições.
b) Mais de um amigo veio ao jantar oferecido pela empresa.

Mais exemplos:
1. Mais de um cineasta realizou este filme.
2. Mais de um jogador teve contusões.
3. Mais de uma atriz levou o prêmio por melhor atuação.
4. Mais de uma greve está por vir na educação.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

SUBSTANTIVO ALTERADO POR DOIS ADJETIVOS

A frase “Joaquim Levy deu explicações insatisfatórias ao mercado americano e europeu” está correta quanto à concordância nominal entre “mercado” e os adjetivos “americano” e “europeu”.
Quando um único substantivo está qualificado por mais de um adjetivo, ocorrem duas concordâncias:
1) O substantivo fica no singular e repete-se o artigo diante de cada adjetivo:
a) O produto conquistou o mercado europeu e o americano.
b) Atualmente, estudo a língua inglesa e a francesa.
2) O substantivo vai para o plural e não se repete o artigo antes de cada adjetivo:
a) O produto conquistou os mercados europeu e americano.
b) Atualmente, estudo as línguas inglesa e francesa.

Por conseguinte, a frase da consulta deve ser reformulada para “Joaquim Levy deu explicações insatisfatórias ao mercado americano e ao europeu” ou “Joaquim Levy deu explicações insatisfatórias aos mercados americano e europeu”.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

INFINITIVO FLEXIONADO / NÃO FLEXIONADO

Em “As bactérias encontram ambiente propício para se proliferar ou proliferarem?”, devo usar o infinitivo flexionado ou o não flexionado?

Quando o infinitivo tem o mesmo sujeito da oração anterior, usa-se, preferencialmente, a forma não flexionada. Essa é uma regra geral recomendada pela maioria dos gramáticos.

Imaginemos a seguinte situação:

"Os presidentes dos clubes foram a Brasília para conversar/conversarem com o ministro dos esportes...". O sujeito de "foram" (verbo da oração principal) é "os presidentes dos clubes"; o sujeito do infinitivo também é "os presidentes dos clubes". Em casos como esse, a flexão do infinitivo é desnecessária.

Há um desencontro no pensamento de alguns gramáticos sobre o uso do infinitivo flexionado ou não. É um fato da língua com o qual temos de conviver.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

USO DO VERBO "JORRAR"

“Fulana disse que pedra sobre pedra vai jorrar”.

O emprego do verbo “jorrar” está correto?

O verbo “jorrar” é proveniente do espanhol chorrar / chorro, que, segundo Corominas, corresponde a uma onomatopeia que imita o ruído da queda-d'água.

O Dicionário A. Houaiss registra:

Jorrar – Verbo transitivo direto, transitivo indireto e intransitivo
1    lançar de si ou sair com jato forte (diz-se de líquido); brotar, irromper, rebentar.
Ex.: <a ferida jorrava sangue> <o petróleo jorrava (do poço) em abundância>
2    emitir súbita e intensamente raios luminosos
Ex.: a luz jorrou na direção do fugitivo
3    Derivação: sentido figurado.
fluir com abundância; emanar, manar
Ex.: jorram de sua mente infinitas ideias
4    Derivação: sentido figurado.
externar, emitir
Ex.: uma pessoa que jorra otimismo e a todos anima.

Pela definição do dicionário e pelos exemplos fornecidos, pode-se afirmar que o verbo “jorrar” só deve ser usado quando aquilo que jorra é líquido ou imaterial.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

USO DA MESÓCLISE

Em “Afastarei-me de toda atividade político-partidária” / “Me afastarei de toda atividade político-partidária”, qual das duas frases está correta?

Estando o verbo no futuro do presente ou no futuro do pretérito, o pronome oblíquo átono internaliza-se no verbo, numa chamada “mesóclise”. Se houver condição de próclise obrigatória, ela prevalecerá. Caso haja a possibilidade de próclise opcional, fica a critério do falante.

  • Afastar-me-ei de toda atividade político-partidária.
  • É certo que me afastarei de toda atividade político-partidária.
  • Estava decidido: ele se afastaria de toda atividade político-partidária.
  • Estava decidido: ele afastar-se-ia de toda atividade político-partidária.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

NAMORAR

Li em um jornal a frase “Muita gente quer namorar com Conca”. Ela está certa gramaticalmente?

Há um equívoco na regência do verbo namorar (cobiçar, desejar, requestar, cortejar, galantear, cativar, apaixonar etc.). Esse verbo é transitivo direto, isto é, pede complemento sem o concurso de uma preposição. Ninguém namora “com” fulana ou beltrano, mas namora fulano ou beltrana.

  • Sentava sorumbático e namorava o copo de vinho.
  • Ia ao jardim e lá namorava as meninas que passeavam à tarde.
  • Apesar de casada, namorava vários colegas de escola.
  • Escobar namorou a mulher do amigo e se deu muito mal.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

DAR O TROCO EM/A?

Na frase “O PMDB do Senado já articula meios de dar o troco em Dilma Rousseff pela redução de espaço no segundo governo”, a regência do verbo “dar” é essa mesma?

Na frase em questão, o verbo “dar” significa “responder”, mas, quanto à regência, continua sendo um verbo transitivo-relativo, com a preposição “a” regendo o objeto indireto. Não é “dar o troco em”, mas “dar o troco a”.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

SUCATAR / SUCATEAR?

Tenho dúvidas com relação ao uso de palavras derivadas do substantivo “sucata”. Na frase “Comissão de Mortos e Desaparecidos reclama de sucateamento no governo”, por exemplo, fico com a impressão de que deveria usar “sucatamento”. Estou certo?

A formação do verbo “sucatar” a partir do substantivo “sucata” é feita com a desinência “-ar”, ocorrendo a superposição dos dois “as”. Em suma, não se usa o “ear”, como em pentear; contrabandear; titubear; balancear...

Os dicionários Aurélio, Priberan e Michaelis registram “sucatar”, como também faz o VOLP, da Academia Brasileira de Letras. Os dicionários Aulete e A. Houaiss registram “sucatear” como brasileirismo, isto é, um regionalismo próprio de nosso País.

Dessa forma, se o verbo é “sucatar”, seus derivados devem seguir essa grafia, como acontece em Portugal. Daí o correto, no registro formal culto, em minha opinião, é “sucatamento”. 

sábado, 3 de janeiro de 2015

CONCORDÂNCIA COM O VERBO "SER"

A frase “Tudo eram motivos para brigas” está correta quanto à concordância verbal? O sujeito “tudo” não é singular?

O verbo “ser” apresenta algumas particularidades no aspecto da concordância que, às vezes, causam dificuldades ao falante.
Quando o sujeito é representado por uma palavra de sentido indefinido, como “tudo, isso, isto, aquilo”, a concordância do verbo “ser” é feita, normalmente, com o predicativo do sujeito, seja ele plural ou singular.

Exemplos? Observe:

Tudo são flores.
Tudo é motivo de querelas.
Aquilo eram fantasias cultivadas.
Aquilo era falsidade manifesta.
Isso são desencantos passageiros.
Isso é desencanto passageiro.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

TOMAR POSSE NA OU DA PRESIDÊNCIA?

Devo dizer “Tomar posse da Presidência da República” ou “Tomar posse na Presidência na República”?

O Dicionário de Regência de Francisco Fernandes considera as duas regências (da ou na) corretas.

Exemplos:

Contentar-se-ão com a posse desses lugares.

Será amanhã sua posse na chefia do departamento.