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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

SUBJUNTIVO DO VERBO HAVER

Tenho dúvidas sobre a correção do emprego do verbo “haver” na frase: “Se havia alguma dúvida sobre a fidelidade ao partido, ninguém poderia afirmar com segurança”.

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato. Em Português, existem três modos:

Indicativo - indica uma certeza, uma realidade. Por exemplo: Eu sempre trabalho.

Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade. Por exemplo: Talvez eu trabalhe amanhã.

Imperativo - indica uma ordem, um pedido. Por exemplo: Trabalha agora, ou terás uma triste velhice.

A frase da consulta estabelece uma dúvida, expressa pela conjunção condicional “se” que a inicia. Dessa forma, o verbo “haver” deve ir para o imperfeito do subjuntivo, estabelecendo uma relação de coerência com o futuro do pretérito da oração seguinte “poderia afirmar”.

“Se houvesse alguma dúvida sobre a fidelidade ao partido, ninguém poderia afirmar com segurança”.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

STF LIBERA ACESSO À RECEITA

Li esta frase em jornal: “STF libera acesso à Receita aos depoimentos da Lava-Jato”. Ela está correta?

O complemento nominal é uma função sintática que vem SEMPRE regida de preposição. Observem que o substantivo “acesso” necessita de um termo que lhe defina o sentido. “Acesso a quê?”, perguntaria o leitor ou ouvinte. Evidentemente, acesso AOS depoimentos da Lava-Jato.

Resta esclarecer a presença de “à Receita”. Qual é sua função? Por que a crase?

Observe-se que o verbo “liberar” é um verbo transito-relativo, isto é, vem com dois complementos: objeto direto + objeto indireto. Colocando-se os termos da frase em outra ordem: “STF libera acesso aos depoimentos da Lava-Jato à Receita”, percebe-se que o sintagma “acesso aos depoimentos da Lava-Jato” é o objeto direto (em cujo interior há o complemento nominal já referido) e o sintagma “à Receita”, o objeto indireto, daí a necessidade da crase.

A frase está correta, mas sua construção produz a dificuldade de entendimento.

Apenas mais uma palavrinha a respeito dos termos (complemento nominal– objeto direto – indireto – sintagma) que usei para destrinçar o problema apresentado. São termos da Gramática Normativa, que devem ser usados apenas como instrumento para a melhor compreensão dos significados textuais, nunca como finalidade do conhecimento linguístico.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

OU --- OU

Em “Luciano ou Melquíades será/serão escolhido(s) para representar a firma”. Como devo usar o verbo “ser”? No singular ou no plural?

Deve-se observar, na frase, se o conector “ou” tem a função de excluir um dos elementos, isto é, a ação verbal aproveitará os dois núcleos do sujeito ou apenas um deles?
Na frase “A mãe ou a filha será eleita a rainha da festa”, o verbo ficou no singular porque apenas uma das duas poderá ser eleita.

O verbo irá para o plural, se a ação verbal aproveitar todos os núcleos do sujeito. “O oficial da reserva ou o oficial da ativa poderão portar arma de defesa pessoal”. Os dois núcleos (oficial da ativa + oficial da reserva) são aproveitados pela ação verbal.


Voltando a frase da consulta, é preciso verificar se o contexto fornece alguma informação sobre o fato, possibilitando, ou não, a exclusão de um dos núcleos do sujeito composto. Pode-se supor que será apenas um representante a ser escolhido e, nesse caso, o verbo deverá ficar no singular.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

OBSCURIDADE

O que está acontecendo na frase: “O problema é quando a alergia é um produto não identificado”? Parece-me sem significado algum.

Quando uma frase carece de compreensão imediata, por defeito de construção ou da escolha correta das palavras, temos o que a Estilística denomina de “obscuridade”. É a falta de clareza, de inteligibilidade no texto produzido.


Na frase em estudo falta o atributo de “ALERGIA”. Da forma como está, alergia é “um produto”, o que evidentemente, configura um absurdo. Proponho a mudança para “O problema é quando a alergia DECORRE DE um produto não identificado”. 

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

DEPEDRAR / DEPREDAR

Em “Os vândalos costumam depedrar / depredar os bens públicos”, qual a forma correta?

A grafia correta é depredar, que significa (saquear, devastar, destruir, assolar, despojar). Daí vêm termos como predador, predação e assemelhados.


Embora os vândalos costumem usar fragmentos de rocha para atingir seus objetivos, o verbo “depredar” nada tem a ver com o substantivo “pedra”.

FUI EU / FOI EU

Na fase “Preparei a armadilha, mas foi eu que caí nela”, a concordância verbal está correta?

O verbo “ser” é classificado, na Gramática Normativa, como um verbo anômalo, em decorrência de ser constituído por três radicais diferentes (sou – és – fui). Desse fato decorre alguma dificuldade em seu emprego correto.

Conjugando o verbo ser no pretérito perfeito do indicativo, temos fui / foste / foi / fomos / fostes / foram.


Portando, “fui eu que caí” e não “foi eu que caí” 

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

OUTRA VEZ A CRASE

Está faltando a crase na frase “Ele se limitou as acusações contra Cerveró e Fernando baiano”?

A crase resulta da fusão de uma preposição [A] com um artigo [A/As] (ou com o [A] inicial de um pronome demonstrativo (aquele(s) – aquela(s) – aquilo). Dessa forma, para que exista a crase é necessário e fundamental: a) a existência da preposição, sempre em decorrência da regência do termo anterior (verbo ou nome gramatical); b) o artigo definido feminino (A/As) que antecede os substantivos femininos no singular ou no plural; ou c) um dos pronomes demonstrativos acima citados.

O verbo “limitar”, usado pronominalmente, como no caso apresentado é um verbo relativo e deve ser construído com objeto indireto regido pela preposição [a]: “A fera limitou-se a rosnar”; “A mulher ofendida limitou-se ao choro”; “Limitamo-nos a reclamar baixinho”.

Na frase da consulta, o substantivo “acusações” admite a determinação pelo artigo feminino plural “as”. Logo, haverá, regularmente, o sinal indicativo da crase: “Ele se limitou ÀS acusações contra Cerveró e Fernando baiano”?

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O PROBLEMA É A CRASE

Na frase “Elaborou o primeiro documento relacionando às áreas de saúde.”, a crase está correta?

A crase resulta da fusão de uma preposição [A] com um artigo [A/As] (ou com o [A] inicial de um pronome demonstrativo (aquele(s) – aquela(s) – aquilo). Dessa forma, para que exista a crase é necessário e fundamental: a) a existência da preposição, sempre em decorrência da regência do termo anterior (verbo ou nome gramatical); b) o artigo definido feminino (A/As) que antecede os substantivos femininos no singular ou no plural; ou c) um dos pronomes demonstrativos acima citados.

Na frase em exame, temos o verbo “relacionar”, em sua forma subjuntiva. Esse verbo é usado como transitivo (apenas com objeto direto), ou como transitivo/relativo, isto é, vem com um objeto direto e outro, indireto. O que (ou quem) relaciona, relaciona algo (ou alguém) a alguém ou a alguma coisa. Ou seja, relaciona um objeto direto a um objeto indireto.

    a)   O documento relaciona(1) as candidatas aprovadas(2). (verbo transitivo direto(1) + objeto direto(2));
     b)   O documento relaciona(1) as candidatas aprovadas(2) às respectivas carreiras(3) (verbo transitivo direto + objeto direto + objeto indireto).

Da forma como está a frase “Elaborou o primeiro documento relacionando às áreas de saúde.”, temos o caso do verbo usado apenas como transitivo direto, não cabendo o uso do sinal indicativo da crase, pois não há preposição a se fundir com o artigo.

sábado, 29 de agosto de 2015

O MONGE CANSADO DAS AMBIGUIDADES

Manchete em um grande jornal do País: “Monge é flagrado por drone ‘descansando’ no alto de turbina eólica”.

Cansados mesmo estamos nós, leitores, de ver tanto disparate cometido por profissionais da comunicação. Na manchete fica claro que o “drone está descansando no alto da turbina eólica”, o que é, evidentemente, um contrassenso.

Quem sabe o drone estava dando uma voltinha por aí e, ao passar sobre o mosteiro, sentiu-se cansado de tanto voar (dronar?) e aproveitou o alto de uma turbina para tirar um cochilo (quem sabe recarregar as baterias?). Eis que, logo abaixo surge um monge que é, então, “flagrado pelo drone”, pois que o destino inelutável dos drones supõe-se seja flagrar...

É muita fantasia para um pobre “drone” cansado... Melhor modificar o texto para “Drone flagra monge descansando no alto de turbina eólica” ou “Monge descansa no alto de turbina eólica e é flagrado por drone”.

A ambiguidade ou anfibologia é o vício de linguagem que consiste em duplicidade de sentido ou significado obscuro, causado pela má construção frasal.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

PENHOR / PENHORA

Devo usar “penhor” ou “penhora”?

A ricaça penhorou as joias para ficar livre dos impostos. A penhora de bens, no Brasil, tem sido um recurso muito usado por quem contrai dívidas inesperadas.
  • Receba V. S. o penhor de minha gratidão.
  • Empréstimos bancários não são concedidos sem o penhor de bens móveis ou imóveis.
Nas frases acima, os termos “penhora” e “penhor” significam algo dado como garantia de uma obrigação ou dívida e podem, portanto, ser usados, indistintamente, com tal significado. 

Há, evidentemente, alguma sutileza em seus significados e emprego, mas absolutamente irrelevantes na comunicação atual.

Ambos ligam-se ao Latim  pignèro,as,ávi,átum,áre, com o mesmo significado. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

PREPOSIÇÃO + SUJEITO

No período “Apesar do contrato não ter sido efetivado, a PF apura quais contatos e relações tiveram Dirceu, seu irmão e o amigo Gaspar na tentativa de criar um auxílio funerário no Bolsa Família”, tenho dúvidas quanto à correção do elemento sublinhado.

A expressão sublinhada (de + o + contrato) é o sujeito da locução verbal que vem logo a seguir. O sujeito é um termo que não aceita ser regido em qualquer situação.

A expressão deve ser corrigida para “Apesar de o contrato não ter sido efetivado...”.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

OBTEVE-SE / OBTIVERAM-SE

Tenho dúvidas sobre a correção da concordância verbal na frase: “Por meio dela, obteve-se documentos irrefutáveis que comprovaram a transferência do dinheiro da Samsung”.

Temos duas formas verbais na sequência: “obteve-se” e “comprovaram”. Basta observar os agentes das ações de um e de outro, para verificar se houve ou não incorreção na concordância verbal.

a)     Quê ou quem “comprovaram a transferência de dinheiro”? A resposta, necessariamente, será o “que”, pronome relativo que tem como referente “documentos irrefutáveis”. O sujeito da oração é, por conseguinte, um pronome relativo que remete para uma 3ª pessoa do plural e a concordância está correta.

b)     Quê ou quem “obteve-se documentos irrefutáveis”? Evidentemente o sujeito passivo é a expressão “documentos irrefutáveis”. O “se” é um pronome apassivador e o verbo deve concordar, normalmente, com o sujeito passivo, em número e pessoa. 

A concordância, portanto, deve ser corrigida para “obtiveram-se documentos irrefutáveis”.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

DESCRIÇÃO / DISCRIÇÃO

O texto “Querer dar mais descrição ao STF significa gastar mais tempo julgando causas 'miúdas' ao invés das 'grandes' causas”, publicado em um grande jornal do País, está correto quanto ao uso do termo em destaque?

O significado de “descrição” está inadequado ao sentido do texto. Ocorre o que se chama de “inadequação vocabular”.

O autor equivocou-se ao usar um parônimo de “discrição”, que é a qualidade de ser “discreto”. Descrição é o ato de “descrever”.

terça-feira, 28 de julho de 2015

SOB / SOBRE

Na frase “Ficou ‘sobre’ a mira do assaltante”, o termo assinalado está usado corretamente?

Não. Ninguém fica “em cima” da mira de uma arma.

Sobre equivale a "em cima de" ou "a respeito de":

  • Estava sobre o telhado.
  • Falou sobre a inflação.
Sob é que significa "debaixo de":

  • Ficou sob a mira do assaltante.
  • Escondeu-se sob a cama.
  • Em caso de terremoto, fique sob a mesa ou saia para a rua.

terça-feira, 21 de julho de 2015

ESTADA / ESTADIA

No texto “Morínigo acrescentou que Francisco, que hoje completa seu segundo dia de estadia no Paraguai, conta com uma vitalidade impressionante para cumprir com a intensa agenda prevista” o uso do termo destacado está correto?

Não.

Os dicionários registram que o uso de “estadia” deve ser reservado para veículos de transporte em geral, quando permanecem em um ponto de carga ou descarga de mercadorias.

Para pessoas que permanecem em um determinado lugar, o termo correto é “estada”.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

POSSA / POSSAM

O verbo “poder” está corretamente empregado em “Julgamos a crise presente como muito pior do que as passadas e não é que não possam sê-lo. O ponto é que avaliações feitas no olho do furacão tendem a superdimensionar a encrenca”?

O verbo “poder”, no caso, está se referindo a que termo? Qual é seu sujeito? Identificando o sujeito, saberemos se o emprego está correto ou não. Que termo, em toda a sequência apresentada, pode exercer a ação declarada pelo verbo em estudo? Evidentemente que se trata do substantivo “crise”. Ela, “a crise presente”, é que pode ser muito pior que as crises passadas.

O redator confundiu-se, ao fazer a concordância no plural, pela proximidade do termo “as passadas”.

terça-feira, 7 de julho de 2015

APLICA / APLICAM

A frase “As sanções contra a Rússia prejudicam também quem as aplicam” apresenta alguma falha de concordância verbal?

Trata-se de um período composto por subordinação. A primeira oração, a principal, tem como núcleo do sujeito o termo “sanções” e a concordância verbal está correta, pois o verbo, “prejudicam”, está na 3ª pessoa do plural, concordando com o sujeito. A 2ª oração, tem como sujeito o pronome “quem”, na terceira pessoa do singular. O verbo, “aplicam”, está na 3ª do plural e é aí que reside o equívoco. 

O correto, por conseguinte, é “As sanções contra a Rússia prejudicam também quem as aplica”.

O autor da frase foi, provavelmente, iludido com a presença do plural na oração anterior e confundiu-se na concordância verbal.

terça-feira, 30 de junho de 2015

PRONOME DE TRATAMENTO + PRONOME POSSESSIVO

“Oh! Excelências, fariseus da política brasileira! Conhecemos bem a multidão de vossos pecados”.

Está correto o emprego do pronome possessivo destacado?

Os pronomes de tratamento (Vossa Excelência, Sua Majestade, Sua Senhoria, Vossa Santidade etc.), embora sejam pronomes de 2ª pessoa (a pessoa com quem se fala), pedem que os pronomes a eles relacionados estejam na 3ª pessoa do singular ou do plural.
·       
  • Sua Santidade e seu acólito siga em paz.
  • Sua Alteza, o Príncipe da Cornualha, estendeu seus olhos, medindo a distância entre nós.
  •  Vossas Excelências mirem-se no exemplo de Maria Antonieta.
  • “Oh! Excelências, fariseus da política brasileira! Conhecemos bem a multidão de seus pecados”.

domingo, 28 de junho de 2015

DE ELE CHEGAR / DELE CHEGAR

A frase “é hora ‘dele’ chegar” está correta”?

Não se faz a contração da preposição com artigo ou pronome que estejam antes do sujeito de um infinitivo.

Textos como: “Quando perguntado aos participantes sobre a possibilidade do governo atingir as metas financeiras, o pessimismo subiu de 10 pontos percentuais nos últimos dois anos”, publicado em um grande jornal brasileiro, comprovam que mesmo alguns profissionais que usam a língua como instrumento de trabalho não são muito de cultivar a arte de escrever bem e certo.

·        É hora de ele chegar.
·        Apesar de o amigo tê-lo convidado.
·        Depois de esses fatos terem ocorrido.
·        É hora de a onça beber água. 

Nota: O sujeito não aceita ser regido de preposição.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

POSAR / POUSAR

Na frase “A modelo ‘pousou’ o dia todo” o uso do verbo “pousar” está correto?

Não. A não ser que o falante esteja falando metafórica e pejorativamente.

Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante etc. 

quinta-feira, 18 de junho de 2015

PRIVILÉGIO / PRIVILEGIADO

A frase “... políticos com foro previlegiado ...” está correta?

O substantivo é “privilégio”, logo o adjetivo derivado é “privilegiado - desprivilegiado”.

A frase correta, portanto, é “... políticos com foro privilegiado ...”

quarta-feira, 17 de junho de 2015

DADO / DADOS - DADA / DADAS

A frase "Dado os índices das pesquisas” está correta?

O particípio passado do verbo “dar” tem o valor de um adjetivo. Em assim sendo, sua concordância com o substantivo a que se refere, no caso “índices”, é normal:
  • Dados os índices das pesquisas.
  • Dado o resultado das pesquisas.
  • Dadas as dimensões do poliedro x.
  • Dada a atual conjuntura socioeconômica.
  • Dadas as tendências atuais.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

À MEDIDA QUE / NA MEDIDA QUE

A propósito das chamadas “biografias não autorizadas”, Luiz Fux entende que, "na medida que cresce a notoriedade da pessoa, diminui-se a sua reserva de privacidade”.

À MEDIDA QUE / NA MEDIDA QUE

Diz-se "à medida que" ou "na medida em que"? Depende das intenções do falante.

São duas locuções conjuntivas parecidas, mas de significados diferentes.
Apenas para lembrar: "locução conjuntiva" é todo grupo de palavras com função relacional entre duas ou mais orações ou dois ou mais termos de uma oração.

·        À medida que chovia / a terra ficava mais e mais encharcada...
·        À medida que se esforçava, sua importância na empresa aumentava.

Trata-se de uma locução conjuntiva com cláusula de proporcionalidade, introduzindo orações subordinadas adverbiais proporcionais.

A locução "na medida que", não tem tradição nos clássicos da língua, contudo vem sendo usada, até por pessoas com domínio linguístico razoável, com valor causal. Algumas vezes até introduzem mais a preposição “em”, causando verdadeira barafunda sintática e semântica.

·        O governo não conseguiu resolver o problema na medida em que não enfrentou suas verdadeiras causas.
Ou seja,
·        O governo não conseguiu resolver o problema porque não enfrentou suas verdadeiras causas.

O texto inicial da consulta deve, portanto, ser modificado para “A propósito das chamadas ‘biografias não autorizadas’, Luiz Fux entende que, ‘à medida que cresce a notoriedade da pessoa, diminui-se a sua reserva de privacidade’”, dada sua evidente ideia de proporcionalidade inversa, ou seja, quanto mais aumenta a notoriedade de uma pessoa, menor sua reserva de privacidade.

Alguns gramáticos, como Evanildo Bechara, Celso Cunha e Napoleão Mendes desaprovam o uso de "na medida que" e "na medida em que", argumentando que não há registro histórico dessas formas na língua. Mas o fato é que esta construção já se tornou rotineira e, como a língua não é uma entidade estanque e imutável, deve ser considerada.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

HAVER / HAVIA

Ouvi um senador dizer, em entrevista, a seguinte frase: “Se haver alguma dúvida sobre a maioria do governo no Senado, ela desapareceu”. Está correta?

Não. Sua Excelência equivocou-se no uso dos tempos e modos verbais.

Veja que a conjunção “se”, que inicia a frase, instaura uma cláusula dubitativa, de improbabilidade. Nesse caso, o verbo “haver” deveria estar no pretérito imperfeito do indicativo “havia” e a frase correta seria “Se havia alguma dúvida sobre a maioria do governo no Senado, ela desapareceu”.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O MORAL / A MORAL

Existe alguma diferença em se falar "A moral" e "O moral"?

A palavra “moral” pode ser masculina ou feminina, dependendo do sentido que assume contextualmente.

A moral – substantivo feminino – é o conjunto das normas de conduta de uma sociedade. Tem a ver com os valores éticos que regem os costumes e que são convencionados como válidos.

·    Satisfazer necessidades fisiológicas em via pública é um desrespeito à moral e aos bons costumes.

A moral também pode significar o propósito de algum relato.

·    Qual é a moral da história? Isto é, que ensinamento contém a história?

O moral – substantivo masculino – diz respeito ao ânimo, à disposição e ao estado de espírito das pessoas no enfrentamento e na solução de um dilema ou dificuldade.

·    O moral da equipe estava baixo depois da goleada que levou.

·    O time argentino não teve moral para voltar a campo.

·    A polícia fez uso de bombas de efeito moral para debelar o tumulto.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

AFIM / A FIM

Está correta a frase: “A medida provisória afim de dificultar as aposentadorias foi aprovada”?

Não.

Afim é adjetivo de dois gêneros e significa afinidade, parentesco, semelhança. “Não há qualquer afinidade entre nós”.

Corrige-se com o uso de “a fim”. Locução prepositiva com o significado de finalidade, determinação, propósito. “A medida provisória, a fim de dificultar as aposentadorias, foi aprovada”. Seria conveniente deixar entre vírgulas a sequência “a fim de dificultar as aposentadorias”. 

quinta-feira, 28 de maio de 2015

QUERER / QUERO / QUEIRA

O emprego do modo verbal está correto na frase: “pode ser que, daqui a três anos eu quero fazer outra coisa”?

A frase expressa uma possibilidade de ocorrência futura. O modo verbal a ser usado em tais circunstâncias é o subjuntivo: “pode ser que, daqui a três anos eu QUEIRA fazer outra coisa”.

terça-feira, 26 de maio de 2015

PÓS-PAGO / PÓS-PAGOS

Como é o plural de “plano pós-pago”?

A palavra "pago" é um particípio com valor adjetival, ou seja, vale um adjetivo e, por isso, concorda em gênero e número com o substantivo plano/planos.


Plano pós-pago / planos pós-pagos.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

MANDATO ou MANDADO

Quando usar “mandado” e “mandato”?

São palavras parônimas, isto é, são parecidas na pronúncia e na grafia, mas nada têm a ver quanto ao significado.

Mandado é uma ordem emitida por quem de direito. Os dicionários registram os seguintes significados:

1. Ato de mandar. 2. Determinação escrita mandada de superior a inferior. 3. Ordem ou despacho escrito de autoridade judicial ou administrativa. 4. Recado, incumbência.

Mandato é uma autorização concedida a alguém para, durante um certo período de tempo, exercer determinada atividade ou ação. São dicionarizados os seguintes significados:

1. Autorização ou procuração que alguém confere a outrem para, em seu nome, praticar certos atos. 2. Delegação. 3. Poderes que os eleitores conferem aos governantes, deputados, senadores e vereadores para representá-los.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

MILITAR DE ALTA PATENTE

Pode-se usar o termo “Militar de alta patente”?

O substantivo feminino "patente" tem vários significados e um deles é o de "título correspondente ao posto a que o militar ascende". Isso posto, é perfeitamente normal que se designem as "altas", "médias" ou "baixas" patentes.

Os oficiais subalternos (1ºs e 2ºs tenentes) são oficiais de "baixa patente"; os capitães são os oficiais intermediários e são, por conseguinte, de "média patente"; os majores, tenentes-coronéis e coronéis compõem o quadro dos oficiais superiores: são de "alta patente".

Restam os generais, que formam um quadro à parte nas organizações militares, já que nem todos têm acesso, mesmo com a formação adequada dependem da escolha do presidente da República. É, praticamente, um cargo de nomeação política.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

EVACUAR

No texto “Após o tumulto, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspendeu a sessão e determinou à Polícia Legislativa que evacuasse as galerias”, está correta a regência do verbo “evacuar”?

O dicionário de regência verbal de Francisco Fernandes ensina que esse verbo pode ser usado como “transitivo direto” ou como “intransitivo”, com os significados de expelir, fazer sair do corpo, esvaziar, sair de algum lugar.

    1)   Os confederados evacuaram as posições.
    2)   O remédio fê-lo evacuar copiosamente.
    3)   Com o tratamento, evacuaram-se os humores.

A regência, pois, está corretíssima. Seria trágico se o presidente determinasse que a Polícia Legislativa “evacuasse NAS galerias”. 

MICRO-ONDAS / MICROCOSMOS

Por que existe hífen em micro-ondas e não em microcosmos?

São duas situações distintas. No primeiro caso, o prefixo “micro” junta-se a uma palavra que se inicia pela vogal [o]; no segundo, o mesmo prefixo está aplicado a uma palavra que se inicia pela consoante [c].

Quando o prefixo termina por vogal, usa-se o hífen, se o segundo elemento começar pela mesma vogal ou pela letra [H].

Assim, escrevemos “autodidata”, “auto-observação”, “antirrábico”, “antiético”, “micro-ondas”, “autoclave”, “autopiedade”, “anti-higiênico”, “antígeno”, “auto-hipnose”, “auto-homenagem”, “anteontem”, “antiabortivo”, “monocromático”, “micronutriente”.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

PASSADO DO VERBO "IMPOR"

Um figurão da política fez essa afirmação: "Isso fez toda a diferença, nossa estratégia foi expor (plano) ao Brasil, dissemos com antecedência o que iria acontecer e não impomos regras aos salários, criamos a URV e depois mudamos a moeda”. Está correto o uso do verbo pôr em “impomos as regras”?

O texto está se referindo a fatos pretéritos. Prova disso são os verbos “fez”, “foi expor”, “dissemos”, “iria acontecer”, “criamos”, “mudamos”. Para haver coerência temporal, o verbo “impor” deveria, também, estar no pretérito: impusemos.

Não impusemos as regras.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

LEMBRAR - LEMBRAR-SE

Em "A novela que eu mais me lembro, que eu mais gostei, foi Tieta (1989). Eu lembro da novela inteira como se fosse ontem. É impressionante", está correta a regência dos verbos “lembrar” “gostar”?

Não. No trecho, a regência verbal está completamente equivocada.

Os verbos nocionais, como lembrar, avisar, esquecer, se construídos com os pronomes oblíquos átonos (me-te-nos-vos-o(s)-a(s)-se), exigem que o outro complemento, se houver, venha regido da preposição “de”.

O verbo “gostar” rege preposição “de”.

A novela de que eu mais me lembro, de que eu mais gostei, foi Tieta (1989). Eu lembro a novela inteira como se fosse ontem.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

DUPLA NEGATIVA

Posso usar a dupla negativa em frases como: "Não vão colocar nunca uma rolha na imprensa, isso é conversa."?

Muito se tem falado e escrito acerca da (in)conveniência do uso da “dupla negativa”. Para consumo próprio, tenho sempre em mente que a língua não é um fato isolado e engessado nas regras de um passado já distante e que também não pode ser abastardada com modismos injustificados. Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar!...

Além disso, não se pode esquecer de que a linguagem literária diverge da linguagem técnica, como a utilizada, por exemplo, na filosofia e na ciência. Ainda que, no registro informal, encontrem-se orações construídas com falhas lógicas, isto não arreda o fato de que negar uma negação é afirmá-la.

No registro formal culto, no qual é exigido que se observem as normas gramaticais, é conveniente que a formulação das frases seja escoimada de imperfeições que impossibilitam o entendimento e a lisura dos significados.
Considero, pois, que a frase da consulta ficaria melhor construída como: “Jamais colocarão uma rolha na imprensa, isso é conversa”.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

DISCRETO / DISCRIÇÃO / DISCREÇÃO

Discreto dá origem a “discreção ou discrição?

O adjetivo discreto qualifica pessoa reservada em seu comportamento social.  É também uma pessoa modesta, ou que consegue se distinguir sem se esforçar em se fazer notar. Muita gente diz dessas pessoas que se trata de alguém dotado de discreção. Tal palavra, contudo, mesmo tão usada, não existe.

A forma correta da nominalização de “discreto” é discrição

terça-feira, 21 de abril de 2015

COMUNICOU-LHES / COMUNICOU-OS

Vi a nota abaixo em um jornal e pareceu-me que a predicação verbal do termo sublinhado não está correta.
“Parlamentares ficaram confusos ao receber a visita de um procurador do gabinete de Rodrigo Janot que os comunicou que a Procuradoria-Geral da República iria convocá-los a depor”.
Realmente está incorreto. Observe-se que o verbo “comunicar” está construído com dois objetos diretos: o pronome oblíquo átono “o” e a oração “a Procuradoria-Geral da República iria convocá-los a depor”, quando deveria estar com um objeto direto e outro, indireto.
Podemos dizer que “quem comunica, comunica algo (objeto direto)a alguém (objeto indireto)”. Daí, a frase correta é:
“Parlamentares ficaram confusos ao receber a visita de um procurador do gabinete de Rodrigo Janot que lhes comunicou que a Procuradoria-Geral da República iria convocá-los a depor”.

O pronome oblíquo átono “o(s)” não exerce a função de objeto indireto.