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terça-feira, 19 de março de 2019

REGÊNCIA DO VERBO "PRECISAR"


“Mourão diz que as reformas criarão a confiança que o Brasil precisa”.

Mourão diz O QUÊ? “que as reformas criarão a confiança...”.

Que confiança? “aquela de que o Brasil precisa...”.

O verbo “precisar” é transitivo indireto (ou transitivo relativo), isto é, exige um complemento regido de preposição. Como dizia minha antiga e amada professora de Língua Portuguesa: “Quem precisa, precisa DE alguém ou DE alguma coisa”.

domingo, 3 de março de 2019

REDAÇÃO NOTA 1.000 DO ENEM


“Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”
Por Lucas Felpi
No livro 1984 de George Orwell, é retratado um futuro distópico em que um Estado totalitário controla e manipula toda forma de registro histórico e contemporâneo, a fim de moldar a opinião pública a favor dos governantes. Nesse sentido, a narrativa foca na trajetória de Winston, um funcionário do contraditório Ministério da Verdade que diariamente analisa e altera notícias e conteúdos midiáticos para favorecer a imagem do Partido e formar a população através [HE1] de tal ótica. Fora da ficção, é fato que a realidade apresentada por Orwell pode ser relacionada ao mundo cibernético do século XXI: gradativamente, os algoritmos e sistemas de inteligência artificial corroboram para[HE2]  a restrição de informações disponíveis e para a influência comportamental do público, preso em uma grande bolha sociocultural.
Em primeiro lugar, é importante destacar que, em função das novas tecnologias, internautas são cada vez mais expostos à[HE3]  uma gama limitada de dados e conteúdos na internet, consequência do desenvolvimento de mecanismos filtradores de informações a partir do uso diário individual. De acordo com o filósofo Zygmund Bauman, vive-se atualmente um período de liberdade ilusória, já que o mundo globalizado não só possibilitou novas formas de interação com o conhecimento, mas também abriu [HE4] portas para a manipulação e alienação semelhantes vistas em “1984”. Assim, os usuários são inconscientemente analisados pelos sistemas e lhes é apresentado apenas o mais atrativo para o consumo pessoal.
Por conseguinte, presencia-se um forte poder de influência desses algoritmos no comportamento da coletividade cibernética: ao observar somente o que lhe interessa e o que foi escolhido para ele, o indivíduo tende a continuar consumindo as mesmas coisas e fechar os olhos para a diversidade de opções disponíveis. Em um episódio da série televisiva Black Mirror, por exemplo, um aplicativo pareava pessoas para relacionamentos com base em estatísticas e restringia as possibilidades para apenas as que a máquina indicava – tornando o usuário passivo na escolha. Paralelamente, esse é o objetivo da indústria cultural para os pensadores da Escola de Frankfurt: produzir conteúdos a partir do padrão de gosto do público, para direcioná-lo, torná-lo homogêneo e, logo, facilmente atingível.
Portanto, é mister que o Estado tome providências para amenizar o quadro atual. Para a conscientização da população brasileira a respeito do problema, urge que o Ministério de Educação e Cultura (MEC) crie, por meio de verbas governamentais, campanhas publicitárias nas redes sociais que detalhem o funcionamento dos algoritmos inteligentes nessas ferramentas e advirtam os internautas do perigo da alienação, sugerindo ao interlocutor criar o hábito de buscar informações de fontes variadas e manter em mente o filtro a que ele é submetido. Somente assim, será possível combater a passividade de muitos dos que utilizam a internet no país e, ademais, estourar a bolha que, da mesma forma que o Ministério da Verdade construiu em Winston de “1984”, as novas tecnologias estão construindo nos cidadãos do século XXI.
Texto publicado na Internet, pelo autor, em razão de ter conseguido a nota 1.000, no ENEM/2018.
Texto muito bem escrito e com argumentos que vão além do desempenho costumeiro dos concludentes do Ensino Médio, apresenta 48 linhas digitadas. Com letra cursiva normal, atingiria bem mais que o dobro dessa medida.
O comando da prova definia que o texto a ser produzido deveria apresentar, no máximo, 20 linhas. O que ultrapassasse tal limite seria desconsiderado, o que mutilaria o resultado final, acarretando, por conseguinte, defeito estrutural grave e a consequente perda e pontos.
Como justificar, então, os 1.000 pontos atribuídos?
Talvez o professor(a) corretor(a) tenha se apaixonado pelo texto e atribuiu uma nota desligada dos padrões definidos pelo Edital do Concurso;
Talvez a prova não tenha sido corrigida e a nota foi dada pelo número de inscrição;
Talvez haja alguma norma de correção desconhecida do público em geral...
Dezenas de hipóteses podem ser levantadas para definir-se o que houve realmente...
Uma correção dos aspectos básicos da produção textual, feita apenas nos dois parágrafos iniciais, revela alguns equívocos também básicos.
O advérbio “através” tem o significado ligado à ideia de “transposição”, ou seja, ir além de um corpo ou lugar, atravessar um obstáculo. No texto, o autor o usou com o sentido de “meio” ou “instrumento”, o que configura erro de significação vocabular ou de inadequação da escolha do vocabulário; o verbo “corroborar” é transitivo direto e, se usado pronominalmente, rege a preposição “com”; não se usa a crase antes de palavra de sentido indefinido; no trecho destacado no segundo parágrafo, ocorre o tipo de incoerência temporal pelo uso inadequado e incoerente de tempos verbais diversos.
A nota 1.000, portanto, segundo o meu entendimento, não se justifica.

 [HE1]uso inadequado.
 [HE2]regência equivocada
 [HE3]crase inadequada.
 [HE4]Problema com a coerência temporal.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

COLOCAÇÃO PRONOMINAL VICIADA


Professor, li no Globo de hoje, 23fev2019, um texto em que aparecia esta frase: “Numa semana marcada pela demissão de um ministro, que envolveu-se numa confusão com o vereador...”.

A colocação do pronome SE está correta?

Embora muitos se insurjam contra a “norma gramatical” e proponham o uso de um registro mais “coloquial” para facilitar a comunicação com pessoas de letramento insuficiente, imagino que em jornal de circulação nacional, os leitores sintam-se incomodados com certas liberdades linguísticas.

No texto, a presença do pronome relativo “que”, antecedendo o verbo “envolver”, torna obrigatório o uso da PRÓCLISE, que é a anteposição dos pronomes oblíquos átonos ao verbo a que estão ligados.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

GRAVE - BASTANTE GRAVE - GRAVÍSSIMO


Professor, hoje ouvi uma afirmação que considerei muito estranha. O correspondente de Rede de Televisão Nacional afirmou o seguinte: “O estado de saúde é considerado bastante gravíssimo”... Está certo isso?

O adjetivo “grave” está em seu grau superlativo absoluto sintético: “gravíssimo”. Acrescentar o advérbio “bastante” para aumentar-lhe a intensidade é despropositado e desnecessário. Deve ser o desejo incontido de provocar comoção nos telespectadores, além do razoável...

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

HÁ TEMPOS ATRÁS...


Jornal O Estado de São Paulo — “Estava aqui lembrando um dia específico em que estava voltando da escola... Há cerca de 18 anos atrás...”

Quando se usa o verbo “haver”, com o sentido de “tempo passado”, não se deve usar outro indicador de tempo, como “atrás”, “decorridos”, “passados”. O próprio verbo já contém esse aspecto temporal.

Tal uso configura o vício de linguagem que a estilística chama de “pleonasmo vicioso”...

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

GOSTAR DE ALGUÉM / GOSTAR DE ALGUMA COISA


O Jornal O Globo trouxe esta preciosidade em sua edição de hoje: “Spotify vai permitir que usuários bloqueiem artistas que não gostam em playlists”.
A Regência Verbal é a parte da Gramática que trata das relações entre os verbos e seus complementos. Não é um dos assuntos mais palatáveis do estudo de nossa língua mas também não é um bicho de sete cabeças...
No texto em questão, o verbo “gostar” não teve sua regência respeitada, pois as pessoas “gostam DE alguém/alguma coisa”. É um verbo classificado como “transitivo indireto”, já que seu complemento deve vir sempre antecedido da preposição “DE”.


Há outro detalhe no texto que é preciso apreciar. A ação expressa pela oração “de que não gostam” é uma ação hipotética, pois não se sabe quais os artistas serão ou não bloqueados. Nesse caso, o verbo “gostar” deve ser empregado no Modo Subjuntivo.


sábado, 19 de janeiro de 2019

GRAU DO ADJETIVO


Professor, hoje ouvi uma afirmação que considerei muito estranha. O correspondente de Rede de Televisão Nacional afirmou o seguinte: “O estado de saúde é considerado bastante gravíssimo”... Está certo isso?

O adjetivo “grave” está em seu grau superativo sintético absoluto: “gravíssimo”. Acrescentar o advérbio “bastante” para aumentar-lhe a intensidade é despropositado e desnecessário. Deve ser o desejo incontido de provocar comoção nos telespectadores, além do razoável...