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terça-feira, 18 de setembro de 2018

TENHO CERTEZA DE QUE...



A advogada do médico envolvido na morte de uma cliente declarou: “Tenho certeza que provaremos na justiça a inocência do Dr. Fulano de Tal”.

Os advogados, jornalistas e comunicadores em geral usam a língua como instrumento de trabalho. Não seria pedir muito que procurassem conhecer melhor o material linguístico que lhes proporciona o sustento e o das respectivas famílias.

No caso específico, a palavra “certeza” é um substantivo que está a reclamar algo que lhe complemente o sentido. Qualquer falante, diante da expressão “tenho certeza”, logo indagaria; “Certeza de quê”? A resposta seria o “Complemento Nominal”: “de que provaremos na justiça a inocência do Dr. Fulano de Tal”.

Todo complemento nominal vem regido de preposição!!!

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

ESSE - DESSE / ESTE - DESTE


Na frase "Senhor Ministro, em nenhum momento, pretendeu-se, portanto, usurpar a competência desta Suprema Corte e autorizar investigação, direta ou indiretamente, contra autoridade com foro privilegiado", o pronome demonstrativo destacado está correto?

Corretíssimo. O pronome refere-se a algo que ainda será nominado (Suprema Corte). Sua função textual é catafórica, ou seja, antecipa um termo que virá a seguir. Nessa função, os demonstrativos devem ser “isto, este, esta, deste, desta, neste, nesta”.

Caso o demonstrativo fizer referência a um termo expresso anteriormente, terá a função anafórica, ou seja, repete um termo do texto, e o uso será com “isso, esse, essa, desse, dessa, nesse, nessa”.

“Os restos mortais de Luzia foram encontrados por historiadores em meados da década de 1970. Com mais de 11 mil anos, os fósseis estavam depositados na Lapa Vermelha, região da Lagoa Santa, em Minas Gerais.

Em abril de 1998, Luzia ganhou reconhecimento facial e foi possível dizer que o esqueleto, segundo os especialistas, pertencia a uma mulher que viveu até os 25 anos. Esse reconhecimento revelou que Luzia tinha traços negroides das antigas populações africanas e australianas”.


sábado, 18 de agosto de 2018

ADEQUA / ADEQUAR


O jornal “O Estado de São Paulo” publicou, hoje, declarações da atriz Luana Piovani sobre sua mudança para Portugal. O trecho final foi “Claro que isso não vai me trazer o dinheiro que eu gasto hoje, mas a gente se adequa”.

Está certa a construção: “Claro que isso não vai me trazer o dinheiro que eu gasto hoje, mas a gente se adequa”?

O verbo “adequar” pertence ao grupo dos chamados “verbos defectivos”, ou seja, “verbos defeituosos”. Tais verbos apresentam falhas de conjugação, com a ausência de algumas pessoas ou tempos.

“Adequar” só é conjugado nas pessoas em que o acento tônico está fora do radical. Assim, no presente do indicativo, teremos:
  •        Eu (não existe)
  • ·      Tu (não existe)
  • ·      Ele (não existe)
  • ·      Nós adequamos
  • ·      Vós adequais
  • ·      Eles (não existe)
No exemplo da consulta “Claro que isso não vai me trazer o dinheiro que eu gasto hoje, mas a gente se adequa”, o sujeito é “gente”, que pode ser substituído, no contexto, por “eu”, logo não existe a forma verbal usada e a frase está errada.

Para resolver esse tipo de problema, é melhor usar um verbo de significação análoga, “ajustar”, por exemplo, “Claro que isso não vai me trazer o dinheiro que eu gasto hoje, mas a gente se ajusta” ou uma forma perifrástica “Claro que isso não vai me trazer o dinheiro que eu gasto hoje, mas a gente vai se adequar”.

É preciso, também, atentar para o fato de que o presente do indicativo é tempo primitivo e, no caso dos verbos com defeito de conjugação, haverá, fatalmente, consequências em seus tempos derivados (imperativo afirmativo, presente do subjuntivo, imperativo negativo), mas isso já outra história.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

TRANSFORMOU LHE / TRANSFORMOU-O


Colson Whitehead retorna ao país que lhe transformou em escritor

A regência do verbo “transformar” pode ser percebida pela expressão: “transformar algo/alguém em alguma coisa”, onde “algo/alguém” é o objeto direto e “alguma coisa” é o objeto indireto.

Ocorre que o pronome oblíquo átono “lhe”, quando exerce a função de complemento verbal, serve, exclusivamente, de objeto indireto. O pronome adequado à frase é “o” que, nas mesmas circunstâncias, serve como objeto direto.

Colson Whitehead retorna ao país que o transformou em escritor”.


sexta-feira, 6 de julho de 2018

MEIO / MEIA


“A ENTREVISTA FOI MEIA COMPLICADA, TANTO DA PARTE DAS PERGUNTAS QUANTO DAS RESPOSTAS”

A palavra meio está intensificando o adjetivo — COMPLICADA —. Nesse caso é um advérbio, não tendo, portanto, flexão de gênero e número.

Para saber se meio é advérbio, basta substituí-lo por outro advérbio de intensidade. Por exemplo, coloque a palavra MUITO no lugar de meio. Se a frase continuar aceitável gramaticalmente, é sinal de que MEIO é advérbio.

“A ENTREVISTA FOI MUITO COMPLICADA, TANTO DA PARTE DAS PERGUNTAS QUANTO DAS RESPOSTAS”

A frase está perfeita, portanto deveremos corrigir a primeira, deixando-a assim:

“A ENTREVISTA FOI MEIO COMPLICAD,A TANTO DA PARTE DAS PERGUNTAS QUANTO DAS RESPOSTAS”

Se não for possível substituir meio por MUITO, então meio pertencerá a outra classe gramatical e flexionará normalmente em gênero.
  • Ele bebeu meia garrafa de vinho = Ele bebeu metade da garrafa.
  • Basta-me meia xícara = Basta-me metade da xícara.
  • Ele prometeu comer meio (a metade) queijo, meia (a metade) rapadura e meio (a metade) metro de linguiça.


segunda-feira, 2 de julho de 2018

CHEGOU A HORA DE A ONÇA BEBER ÁGUA


O jornal O Estado de Minas publicou a seguinte chamada para uma matéria esportiva: “Será a primeira chance dos torcedores verem de perto os novos reforços”. Está correta?
Há um erro elementar, mas recorrente em textos de pessoas inexperientes no uso da língua.

Qual é o sujeito do verbo “verem”? Quem verá os novos reforços? Evidente que serão os torcedores a quem será dada a chance de vê-los...

Há uma regra fundamental no estudo da Gramática da Língua Portuguesa: “O sujeito é O TERMO REGENTE POR EXCELÊNCIA”, isto é, ele é o principal termo da oração e não se sujeita a nenhum outro termo.

Observando-se a oração da consulta, vê-se que o sujeito está regido da preposição “DE” – chance dos torcedores verem — onde “dos” equivale à contração (DE + OS).

As preposições são elementos de ligação que servem para estabelecer o domínio de um termo (regente) sobre o outro (regido).

Antes do sujeito não pode haver preposição, nem mesmo em contrações...

Assim, o correto é dizer que Será a primeira chance de os torcedores verem de perto os novos reforços”.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

À MEDIDA QUE / NA MEDIDA EM QUE


Como usar: à medida que / na medida EM que?

São duas locuções diferentes, embora semelhantes na aparência, o que tem levado muitas pessoas – mesmo com bom conhecimento da língua – a fazer um cruzamento entre elas, como li há pouco tempo: *”À medida em que recuavam, o exército russo e a população civil iam queimando plantações e destruindo fábricas”.

A locução conjuntiva — à medida que — com crase e sem a preposição ‘em’ - está classificada entre as conjunções subordinativas proporcionais; portanto, tem o mesmo significado de à proporção que, como nos seguintes exemplos:

(1) "À medida que o regime foi se consolidando, só o caminho que Jango preconizava, de resistência política, é que podia mesmo prevalecer", reconhece Brizola.

(2) No caso do Mal de Alzheimer, que é a principal doença da memória, os neurônios são destruídos à medida que a enfermidade avança.

A segunda locução — na medida EM que —, de uso mais recente, não se encontra nos livros de gramática tradicionais. Não sendo legitimada, não era ensinada na escola. Para desfazer a confusão: na medida em que encaixa-se nas conjunções causais, tendo o sentido aproximado de "pelo fato (razão, motivo) de que, uma vez que, já que, porquanto":

(3) O Estado, na medida em que se responsabiliza apenas pelo financiamento do Ensino Fundamental, estaria se abstendo de cumprir seu papel de promotor do bem comum.

(4) Essa concepção de linguagem está associada à teoria da comunicação e é falha na medida em que reserva ao emissor um papel ativo e ao receptor um papel passivo.

(5) O currículo escolar daria então sua contribuição na medida em que abrisse discussões ideológicas e metodológicas.