Comentários sobre o uso prático da língua portuguesa. Resposta a consultas formuladas por frequentadores do Blog.
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quinta-feira, 2 de agosto de 2018
TRANSFORMOU LHE / TRANSFORMOU-O
“Colson
Whitehead retorna ao país que lhe transformou em escritor”
A regência do verbo “transformar”
pode ser percebida pela expressão: “transformar algo/alguém em alguma coisa”,
onde “algo/alguém” é o objeto direto e “alguma coisa” é o objeto indireto.
Ocorre que o pronome oblíquo
átono “lhe”, quando exerce a função de complemento verbal, serve, exclusivamente, de objeto indireto. O pronome
adequado à frase é “o” que, nas mesmas circunstâncias, serve como objeto
direto.
“Colson
Whitehead retorna ao país que o transformou em escritor”.
sexta-feira, 6 de julho de 2018
MEIO / MEIA
“A
ENTREVISTA FOI MEIA
COMPLICADA, TANTO DA PARTE DAS PERGUNTAS QUANTO DAS RESPOSTAS”
A palavra meio
está intensificando o adjetivo — COMPLICADA
—. Nesse caso é um advérbio, não tendo, portanto, flexão de gênero e número.
Para saber se meio
é advérbio, basta substituí-lo por outro advérbio de intensidade. Por exemplo,
coloque a palavra MUITO no lugar de meio. Se a frase continuar aceitável
gramaticalmente, é sinal de que MEIO é advérbio.
“A
ENTREVISTA FOI MUITO
COMPLICADA, TANTO DA PARTE DAS PERGUNTAS QUANTO DAS RESPOSTAS”
A frase está perfeita, portanto deveremos corrigir a
primeira, deixando-a assim:
“A
ENTREVISTA FOI MEIO
COMPLICAD,A TANTO DA PARTE DAS PERGUNTAS QUANTO DAS RESPOSTAS”
Se não for possível substituir meio por MUITO, então meio
pertencerá a outra classe gramatical e flexionará normalmente em gênero.
- Ele bebeu meia garrafa de vinho = Ele bebeu metade da garrafa.
- Basta-me meia xícara = Basta-me metade da xícara.
- Ele prometeu comer meio (a metade) queijo, meia (a metade) rapadura e meio (a metade) metro de linguiça.
segunda-feira, 2 de julho de 2018
CHEGOU A HORA DE A ONÇA BEBER ÁGUA
O
jornal O Estado de Minas publicou a seguinte chamada para uma matéria
esportiva: “Será a primeira chance dos torcedores verem de
perto os novos reforços”. Está
correta?
Há um erro elementar, mas
recorrente em textos de pessoas inexperientes no uso da língua.
Qual é o sujeito do verbo “verem”?
Quem verá os novos reforços? Evidente que serão os torcedores a quem será dada a chance de vê-los...
Há uma regra fundamental
no estudo da Gramática da Língua Portuguesa: “O sujeito é O TERMO REGENTE POR
EXCELÊNCIA”, isto é, ele é o principal termo da oração e não se sujeita a
nenhum outro termo.
Observando-se a
oração da consulta, vê-se que o sujeito está regido da preposição “DE” – chance dos
torcedores verem — onde “dos”
equivale à contração (DE + OS).
As preposições são elementos de ligação que servem para estabelecer o
domínio de um termo (regente) sobre o outro (regido).
Antes do sujeito não pode haver preposição, nem mesmo em contrações...
Assim, o correto é dizer que “Será a
primeira chance de os torcedores verem de perto os novos reforços”.
segunda-feira, 18 de junho de 2018
À MEDIDA QUE / NA MEDIDA EM QUE
Como usar: à medida que / na medida EM que?
São duas locuções
diferentes, embora semelhantes na aparência, o que tem levado muitas pessoas –
mesmo com bom conhecimento da língua – a fazer um cruzamento entre elas, como
li há pouco tempo: *”À medida em que
recuavam, o exército russo e a população civil iam queimando plantações e
destruindo fábricas”.
A locução conjuntiva — à
medida que — com crase e sem a preposição ‘em’ - está classificada entre as
conjunções subordinativas proporcionais; portanto, tem o mesmo significado de à
proporção que, como nos seguintes exemplos:
(1) "À medida que o regime foi se
consolidando, só o caminho que Jango preconizava, de resistência política, é
que podia mesmo prevalecer", reconhece Brizola.
(2) No caso do Mal de
Alzheimer, que é a principal doença da memória, os neurônios são destruídos à medida que a enfermidade avança.
A segunda locução — na
medida EM que —, de uso mais recente, não se encontra nos livros de gramática
tradicionais. Não sendo legitimada, não era ensinada na escola. Para desfazer a
confusão: na medida em que encaixa-se
nas conjunções causais, tendo o sentido aproximado de "pelo fato (razão,
motivo) de que, uma vez que, já que, porquanto":
(3) O Estado, na medida em que se responsabiliza
apenas pelo financiamento do Ensino Fundamental, estaria se abstendo de cumprir
seu papel de promotor do bem comum.
(4) Essa concepção de
linguagem está associada à teoria da comunicação e é falha na medida em que reserva ao emissor um papel ativo e ao receptor um
papel passivo.
(5) O currículo escolar
daria então sua contribuição na medida
em que abrisse discussões ideológicas e metodológicas.
sexta-feira, 15 de junho de 2018
CONJUGAÇÃO DO VERBO INTERMEDIAR
Professor, li em jornal de circulação nacional a noticia: “A TFM
Agency, antiga Traffic, ajuda o Galo na busca pelo atleta. A empresa financia
parte da negociação e INTERMEDIA as
conversas ao lado do dirigente alvinegro”.
O verbo INTERMEDIAR
está flexionado corretamente?
Não. O verbo “intermediar” não
se conjuga assim.
Os verbos terminados em -iar têm conjugação regular, ou seja,
seguem a conjugação de qualquer verbo terminado em -ar, como, por exemplo, o
"andar". Então, se dizemos "eu ando, tu andas, ele anda",
também diremos "eu negocio, tu negocias, ele negocia".
Há alguns verbos terminados em
-iar, porém, que não seguem essa conjugação. É o caso de "mediar",
"ansiar", "remediar", incendiar", "odiar" e
todos os seus derivados. Esses verbos terão o acréscimo da letra "e"
antes da terminação -iar, nas pessoas "eu, tu, ele e eles" do presente do indicativo (todos os dias
...) e do presente do subjuntivo
(espero que ...). A conjugação desses dois tempos ficará desta forma: Todos os
dias eu medeio, tu medeias, ele medeia,
nós mediamos, vós mediais, eles medeiam. Que eu medeie, tu medeies, ele medeie, nós
mediemos, vós medieis, eles medeiem.
Todos os outros tempos seguem
a conjugação regular, ou seja, terão conjugação igual à de qualquer verbo
terminado em -ar.
O verbo "intermediar"
é derivado de "mediar" e sua conjugação é idêntica. A frase
apresentada, então, deve ser assim reescrita:
“A empresa financia parte da negociação e INTERMEDEIA as conversas ao lado do dirigente alvinegro”.
sábado, 9 de junho de 2018
500.000 ACESSOS AO BLOG
MEIO MILHÃO DE ACESSOS
Nesta semana, ultrapassamos a marca de meio milhão de consultas ao Blog.
Nosso muito obrigado a todos os consulentes!
Fica aqui a promessa de continuarmos firmes em nosso propósito de ajudar sempre que alguém necessitar de alguma ajuda com a Nossa Língua Portuguesa..
Nesta semana, ultrapassamos a marca de meio milhão de consultas ao Blog.
Nosso muito obrigado a todos os consulentes!
Fica aqui a promessa de continuarmos firmes em nosso propósito de ajudar sempre que alguém necessitar de alguma ajuda com a Nossa Língua Portuguesa..
quarta-feira, 23 de maio de 2018
VOCÊ / TEU / TUA
Professor, eu estava assistindo ao programa “Seleção Sport
TV” e um dos jornalistas participantes fez a seguinte pergunta ao jogador
entrevistado:
“Fulano, na TUA volta aos gramados, em que partida VOCÊ se
sentiu mais à vontade?”
Achei estranha a ocorrência de TU e VOCÊ, na mesma sentença e referindo-se ao interlocutor do falante. Pode isso?
Não, não pode!
As pessoas do discurso são três. 1ª pessoa: quem fala (eu, nós); 2ª pessoa (tu, vós): com quem se fala; 3ª pessoa: de quem se fala (ele/ela, eles/elas). Esses pronomes pessoais retos são tônicos e têm seus correspondentes átonos específicos.
Eu è
me, meu, minha. Nós è nos, nossos, nossas.
Tu è
te, teu, tua. Vósè vos, vosso, vossas.
Ele/Ela è
o/a, se, lhe, seu, sua. Eles/elas
è os/as se, lhes, seus,
suas.
No registro coloquial, usado no Brasil, é comum as pessoas confundirem os pronomes átonos de 2ª pessoa com os de 3ª pessoa. Foi o que deve ter ocorrido com o jornalista em questão.
No registro formal, dever-se-ia dizer:
“Fulano, em TUA volta aos gramados, em que partida TE sentiste mais à vontade?”
“Fulano, em SUA volta aos gramados, em que partida VOCÊ se
sentiu mais à vontade?”
Misturar pronomes de 2ª e 3ª pessoas é erro primário de uso da Língua Portuguesa.
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