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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A VÍRGULA E A AMBIGUIDADE

“Filho de brasileira, que se uniu ao Estado Islâmico, pode levar até cinco anos de cadeia”.

Quem se uniu ao Estado Islâmico? O filho ou a mãe?

Da forma como está escrita a frase, o pronome relativo “que” refere-se à totalidade do termo imediatamente anterior. A oração “, que se uniu ao Estado Islâmico,” é uma adjetiva explicativa que remete para esse termo (Filho de brasileira). Se eliminarmos a oração entre vírgulas, o sentido do fato principal – a possibilidade da pena – é preservado.

O contexto histórico informa o leitor sobre a realidade dos fatos. Quem praticou o ato de “unir-se” foi o rapaz e não a mãe. Isso está nos jornais e nos noticiários do rádio e da televisão.

Para mudar o fato e a gramática, basta que se eliminem as duas vírgulas. “Filho de brasileira que se uniu ao Estado Islâmico pode levar até cinco anos de cadeia”. Pronto! A oração transformou-se em adjetiva restritiva e passa a referir-se exclusivamente ao termo “brasileira”.

Surge então outra dúvida: quem levará a pena? O filho ou a mãe?

Se o filho for punido, o será por ser filho de uma mulher que se uniu ao Estado Islâmico... É uma profunda incoerência!

Para que os leitores não tenham a menor dúvida sobre o significado do texto, seria melhor reformular para:

“Rapaz que se uniu ao Estado Islâmico, que pode ser condenado a cinco anos de prisão, é filho de mãe brasileira”.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

SOB / SOBRE

Ficou "sobre" a mira do assaltante. Está correto?
Sobre equivale a em cima de ou a respeito de
Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação.
Sob é que significa debaixo de: 
Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se sob a cama.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

QUASE LINCHADO?

“Motorista embriagado atropela quatro pessoas e quase é linchado na Bahia”.

Posso usar o verbo “linchar” sem que haja o óbito da vítima do linchamento?

Assim como mulher alguma fica “quase grávida”; nenhum condenado é “quase culpado”; não há gol “quase validado” e ninguém é “quase honesto”, “quase linchado” é uma impropriedade semântica.

O significado principal de "linchar" é o de um grupo de pessoas "executar o suspeito, sem julgamento". Por extensão de sentido, pode ser usado, figurativamente, como em "linchamento moral"; "linchamento político".

No caso específico de "agressão física a um suspeito, praticada por grupo ou multidão" eu preferiria usar "tentativa de linchamento", quando não ocorresse o óbito da vítima.

“Motorista embriagado atropela quatro pessoas e sofre tentativa de linchamento na Bahia”.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

MANTER / MANTIVER / INFRAESTRUTURA

Encontrei esta afirmação em um jornal: “Se o governo não manter uma política de austeridade nas contas públicas, nunca conseguiremos resolver o problema dos investimentos em infra-estrutura”. 

Ela está correta?

O texto da consulta apresenta dois problemas.

    a.   A conjunção subordinativa condicional “se”, que inicia o texto, instaura uma cláusula de “condicionalidade”, ou seja, é preciso que haja a austeridade nas contas públicas para que se façam os investimentos. O verbo “manter”, em razão dessa “condicionalidade”, deve ser conjugado no modo subjuntivo: “mantiver”.

    b.   Não existe o hífen em “infraestrutura”. Prefixos terminados em vogal só aceitam o hífen antes de palavras iniciadas com a mesma vogal ou com a letra “h”.

O correto, portanto, é “Se o governo não mantiver uma política de austeridade nas contas públicas, nunca conseguiremos resolver o problema dos investimentos em infraestrutura”.

sábado, 31 de janeiro de 2015

SUJEITO MAIS DE UM / MAIS DE UMA

Li em um jornal o texto a seguir e pareceu-me que a concordância verbal não está correta. Sujeito “mais de um” pede o verbo no singular ou no plural?

Os procuradores da República que investigam o escândalo avisam que mais de uma empresa podem propor pacto com o Ministério Público Federal, mas esses acordos somente serão firmados individualmente.”

Realmente a expressão “mais de um” pede o verbo na 3ª pessoa do singular

a) Mais de um candidato burlou ou burlaram as eleições?
b) Mais de um amigo veio ou vieram ao jantar oferecido pela empresa?

A resposta é simples: Use o singular!

Assim, retomando as orações acima, o correto é:

a) Mais de um candidato burlou as eleições.
b) Mais de um amigo veio ao jantar oferecido pela empresa.

Mais exemplos:
1. Mais de um cineasta realizou este filme.
2. Mais de um jogador teve contusões.
3. Mais de uma atriz levou o prêmio por melhor atuação.
4. Mais de uma greve está por vir na educação.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

SUBSTANTIVO ALTERADO POR DOIS ADJETIVOS

A frase “Joaquim Levy deu explicações insatisfatórias ao mercado americano e europeu” está correta quanto à concordância nominal entre “mercado” e os adjetivos “americano” e “europeu”.
Quando um único substantivo está qualificado por mais de um adjetivo, ocorrem duas concordâncias:
1) O substantivo fica no singular e repete-se o artigo diante de cada adjetivo:
a) O produto conquistou o mercado europeu e o americano.
b) Atualmente, estudo a língua inglesa e a francesa.
2) O substantivo vai para o plural e não se repete o artigo antes de cada adjetivo:
a) O produto conquistou os mercados europeu e americano.
b) Atualmente, estudo as línguas inglesa e francesa.

Por conseguinte, a frase da consulta deve ser reformulada para “Joaquim Levy deu explicações insatisfatórias ao mercado americano e ao europeu” ou “Joaquim Levy deu explicações insatisfatórias aos mercados americano e europeu”.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

INFINITIVO FLEXIONADO / NÃO FLEXIONADO

Em “As bactérias encontram ambiente propício para se proliferar ou proliferarem?”, devo usar o infinitivo flexionado ou o não flexionado?

Quando o infinitivo tem o mesmo sujeito da oração anterior, usa-se, preferencialmente, a forma não flexionada. Essa é uma regra geral recomendada pela maioria dos gramáticos.

Imaginemos a seguinte situação:

"Os presidentes dos clubes foram a Brasília para conversar/conversarem com o ministro dos esportes...". O sujeito de "foram" (verbo da oração principal) é "os presidentes dos clubes"; o sujeito do infinitivo também é "os presidentes dos clubes". Em casos como esse, a flexão do infinitivo é desnecessária.

Há um desencontro no pensamento de alguns gramáticos sobre o uso do infinitivo flexionado ou não. É um fato da língua com o qual temos de conviver.