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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

COLOCAÇÃO DO PRONOME OBLÍQUO (APOSSÍNCLISE)

Está correta a frase “Era impossível que lhe não deixasse alguns reais a cada visita”? A posição do pronome “lhe” me parece estranha.

A posição do pronome “lhe” é, realmente, pouco usual, mas está correta.

Há dois elementos subordinantes, – “que / não” – encadeados antes do verbo “deixar”. Essa ocorrência permite que se posicione o pronome oblíquo átono antes do verbo “que não lhe deixasse”, ou entre os dois elementos encadeados “que lhe não deixasse”.

A gramática normativa chama essa colocação de “apossínclise”.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

SILEPSE DE PESSOA

Na oração “Os contribuintes compartilhamos da preocupação com os destinos dados ao nosso rico dinheirinho”, a concordância verbal está correta? O sujeito “contribuintes” é da 3ª pessoa do plural e o verbo “compartilhar” está na 1ª pessoa...

A concordância está correta. O autor usou de um recurso expressivo chamado de “silepse de pessoa” ou “concordância ideológica”. É possível usar a silepse de pessoa somente quando o falante está incluído entre os integrantes de um sujeito plural. É como se ele dissesse: “Nós, os contribuintes, compartilhamos...”.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

REGÊNCIA DO VERBO PEDIR

Está certa a regência na frase “Porém, em nenhum momento eu o pedi e ele muito menos exerceu o papel de solicitar recursos ao Sr. Paulo Roberto para a campanha ao Senado de 2010″?

O verbo “pedir”, nesse contexto, é transitivo-relativo, isto é, deve ser construído com dois complementos: objeto direto (para coisa) e objeto indireto (para pessoa). É como se eu dissesse: “pedir alguma coisa a alguém”. Pedir mesada ao pai; Pedir ajuda ao amigo.

Em “eu o pedi”, o alvo da petição, objeto indireto, é representado pelo pronome oblíquo átono “o”, o que é gramaticalmente incorreto, pois tal pronome não exerce a função de objeto indireto. Tal função é própria do pronome oblíquo átono “lhe”.

A frase, portanto, deve ser corrigida para: “Porém, em nenhum momento eu lhe pedi e ele muito menos exerceu o papel de solicitar recursos ao Sr. Paulo Roberto para a campanha ao Senado de 2010″.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

CONCORDÂNCIA VERBO-NOMINAL

Devo escrever “Grande parte do trabalho foi feito por estagiários” ou “Grande parte do trabalho foi feita por estagiários”?

Os partitivos, como “a maioria” e “parte”, apresentam um status categorial “ambíguo”.
Ao lado de uma natureza funcional, que lhes permite realizar operações de quantificação sobre nomes, também apresentam uma natureza lexical, com um comportamento semelhante ao de verdadeiros núcleos nominais.

No primeiro caso, o nome antecedido por “maioria” ou “parte” é o termo controlador da concordância; no segundo caso, “maioria” e “parte” detêm o controle da concordância. Pode-se dizer que “maioria” e “parte”, além de “quantificadores de contagem”, também pertencem, respectivamente, às subclasses semânticas de “termos de referência dependente” e “quantificadores de medição”.

Quanto à concordância, quando “parte” tem o sentido apenas de “área”, isto é, só existe a leitura quantificativa, a concordância é feita com o primeiro nome.
a)     Grande parte do trabalho foi feita por estagiários”. (leitura quantificativa).

Numa sentença em que tanto a leitura quantificativa quanto a descritiva podem ser atribuídas ao nome partitivo, o verbo no singular, concordando com o primeiro nome, permite ambas as leituras.
a)     Grande parte do trabalho foi feita por estagiários”. (leitura quantificativa).
b)     “Grande parte do trabalho foi feito por estagiários”. (leitura descritiva).

CONCLUSÃO
Quando o sujeito é constituído de uma expressão partitiva, seguida de complemento, a CONCORDÂNCIA VERBAL pode ser feita com o verbo no singular ou no plural. Se houver predicativo do sujeito, ele concordará em gênero e número com o partitivo ou com o complemento.
c)     A maior parte dos alunos ficou satisfeita.
d)     A maior parte dos alunos ficaram satisfeitos.
e)     Um terço das mulheres está grávido.
f)       Um terço das mulheres estão grávidas.

Assim, a frase da consulta pode ser formulada de duas formas distintas, ambas perfeitamente gramaticais:
1.     “Grande parte do trabalho foi feita por estagiários” (leitura quantificativa).

2.     “Grande parte do trabalho foi feito por estagiários” (leitura descritiva)

domingo, 30 de novembro de 2014

O VERBO PARTICIPAR

A frase “Foi a prova mais difícil que já participei” está correta?

O verbo “participar”, no sentido de tomar ou fazer parte de algo, é transitivo indireto, exigindo complemento regido da preposição “de”. Participar de um evento; de uma ação; de uma decisão...

O uso correto, por conseguinte, é “Foi a prova mais difícil DE que já participei”.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

SIGNIFICADO DO VERB O "IMPINGIR"

O uso do verbo “impingir” na frase “A empresa foi impingida a pagar propina ao esquema criminoso” está certa?

O dicionário Houaiss registra para o verbo impingir, dentre outros, os seguintes significados:
2 ( bit. ) [prep.: a] forçar a engolir; empurrar
    ‹ impingiu-lhe uma colherada de purgante ›
3 ( bit. ) [prep.: a] obrigar a aceitar (algo que não deseja); empurrar, impor
    ‹ impingiu uma rifa aos amigos ›

Deduz-se, portanto, que o uso em “A empresa foi impingida (obrigada – forçada) a pagar propina ao esquema criminoso” está absolutamente correto.

Tratamos aqui, evidentemente, apenas do aspecto linguístico envolvido no texto.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

REGÊNCIA DO VERBO GOSTAR

A moça "que ele gosta".

“Reza a boa educação que quando se convida alguém para uma festa na sua casa é preciso levar em conta a música que o convidado gosta, os quitutes que serão servidos e a forma de recebê-lo na porta”

A oração destacada apresenta um equívoco na regência do verbo “gostar”.
Já cantava Amália Rodrigues: “Não queiras gostar DE mim... DE quem eu gosto, nem às paredes confesso...”. Gostar de alguém... Gostar de alguma coisa.

Como se gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta.