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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

EXISTE "NAONDE"?

Um dia desses ouvi um entrevistado em um programa televisivo, tratado de “doutor” pelo entrevistador, dizer: “Trabalhamos muito na pastoral, naonde obtemos grandes retornos emocionais”. Fiquei preocupado, porque teríamos um advérbio aglutinado a duas preposições: ((“em” + “a” + “onde”) = naonde) e o verbo estaria regendo duplamente as preposições usadas, o que, evidentemente, vai de encontro à Gramática Normativa.

Procurei nos dicionários Aurélio, Houaiss, Michaelis, Priberan, Aulete, no VOLP e não encontrei o advérbio “naonde”. Vai ver que o “doutor”, aplicando livremente sua “doutorice”, criou um advérbio novo e aproveitou para inovar, também, na regência verbal e no emprego de sua “obra”.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

ONDE / AONDE?

Qual a diferença entre “onde” e “aonde”?

Ambos são advérbios indicativos de lugar. A preposição a de aonde indica que esse advérbio deve ser usado somente quando estiver subordinado a verbos “de movimento” que pedem tal preposição.

Isso ocorre em "Aonde Felipão vai?" – já que quem vai sempre irá a algum lugar - e "Aonde os políticos estão nos levando?", pois quem leva tem de levar alguém ou algo a um lugar.

Onde deve ser relacionado a situações que fazem referência a um lugar sem que a ideia de movimento esteja presente. Por exemplo: "O bairro onde moramos é pacífico" e "Não conheço a cidade onde você enriqueceu".

Observe que “onde” só deve ser usado para indicar locais físicos. Não pode ser usado em situações como “O autor cria tramas criminosas onde a vítima é sempre uma mulher”. Nesses casos o emprego correto é “em que”.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

CRASE ANTES DE PLURAL

Na frase abaixo, o acento grave (indicador de crase) aparece no “a” que antecede um plural. Isso está correto?

“O governo brasileiro enviou observadores à cidades da faixa de Gaza, sob intenso ataque israelense”.
Está incorreto. A crase é indicativo da fusão da preposição “a” com o artigo que antecede o substantivo. O artigo antes de substantivo plural deve ser, necessariamente, plural: às cidades. Como o artigo é dispensável nesse caso, "a cidades" também estaria correto.

terça-feira, 29 de julho de 2014

REERGUER OU RE-ERGUER?

O acordo ortográfico determina que os prefixos sejam usados com hífen, se estiverem antes de palavras iniciadas pela letra “h” ou pela mesma letra final do prefixo. Como explicar, então, a grafia de reerguer, sem o hífen?
  • Base XVI, parágrafo 1º, item b
  • b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno.
  • Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.

Veja-se que, na observação acima, faz-se referência específica ao prefixo CO-. Infere-se, então, que o prefixo RE- deva seguir a regra geral.

Contudo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), da Academia Brasileira de Letras (ABL), publicado em janeiro de 2009, traz o termo sem hífen: reerguer.

No VOLP, também são grafados sem hífen inúmeros outros termos com prefixo RE- seguidos da letra E: reecoar; reencenar; reerguer; reedificar; reencetar; reerigir reeditar; reencher; reescalar; reeditorar; reencontrar; reescalonar; reeducar; reendereçar; reescravizar; etc. ...

O Acordo manda colocar o hífen, mas o dicionário da ABL o suprimiu. E agora, qual grafia é a correta?

Como cabe legalmente à ABL, por meio do VOLP, definir como são escritas as palavras na Língua Portuguesa usada no Brasil, conclui-se que o correto é o uso sem o hífen: REEGUER.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

ENSINO A DISTÂNCIA OU ENSINO À DISTÂNCIA?

A gramática ensina que as locuções adverbiais femininas serão sempre com a crase (à beira do caminho, à margem da vida, às escuras, às claras, à moda).

Ensina também que existem alguns casos excepcionais de uso da crase e dentre eles coloca o problema da palavra "distância": só terá a crase se estiver determinada com precisão: (O carro parou à distância de 45 metros do abismo; estava a distância e, por isso, não ouvi o chamado; fique a distância segura).

Como se percebe, uma recomendação contrapõe-se à outra.

Em geral, portanto, aceitam-se as duas formas (educação à distância - locução adverbial feminina; educação a distância - não há precisão estabelecida para a palavra 'distância').

quinta-feira, 24 de julho de 2014

A / HÁ

Na frase: “O usuário precisa estar sem sinal de internet a (ou há?) mais de dois dias para ser atendido”. Nesse caso, seria cabível empregar a preposição “a” ou a forma verbal “há”?

Em primeiro lugar, consideremos que a forma “há”, do verbo “haver”, indica tempo decorrido. Por esse motivo, são corretas construções como as seguintes: “Vivo em Brasília mais de quarenta anos”, “Estive em Londres dois anos”.

Da mesma forma, é a preposição “a” que usamos em construções como “Estávamos a três meses das eleições” (três meses antes do evento) ou “A posse será daqui a duas semanas” (duas semanas antes da posse). Note que não temos tempo decorrido, mas, contrariamente, um tempo futuro.

A frase em estudo, rigorosamente, não se enquadra em nenhuma dessas duas situações. A preposição “a” logo seria descartada, pois não há demarcação de intervalo (como há em “de hoje a sexta-feira”) nem projeção de tempo futuro (como há em “a três meses das eleições”). Como não se trata de tempo decorrido, já que o fato não se concretizou, também devemos descartar o uso do verbo “haver”.
Casos como esse são resolvidos pela mudança da forma a empregar.

Veja uma sugestão: “Para ser atendido, o usuário deve estar sem sinal de internet por mais de dois dias”.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

MALCRIADO / BEM-CRIADO

Pelas novas regras do novo acordo ortográfico, o prefixo bem leva hífen quando forma palavras começadas por vogal ou h e ainda nas palavras começadas por consoante e que têm sentido por si só (ex.: bem-estar, bem-humorado, bem-criado). Ora, pelas mesmas regras, o prefixo mal leva também hífen nas palavras começadas por vogal ou h (ex.: mal-estar, mal-humorado).
Qual é a razão de não se aplicar tal princípio à palavra malcriado, com processo de formação idêntico a bem-criado?

Os advérbios bem e mal, quando associados a outras palavras, não são prefixos, mas elementos de composição.

Sobre o uso de hífen com bem e mal, o novo Acordo Ortográfico determina o seguinte (base XV, 4):

4. Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf. malfalante), bem-mandado (cf. malmandado), bem-nascido (cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto).

Obs.: Em muitos compostos o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc.”


Sintetizando: com mal e bem não se verifica o uso sistemático do hífen, havendo muitas exceções advindas da tradição. O falante (redator) deve pesquisar sempre que houver dúvida sobre a grafia com esses advérbios.