Pesquisar este blog

terça-feira, 29 de julho de 2014

REERGUER OU RE-ERGUER?

O acordo ortográfico determina que os prefixos sejam usados com hífen, se estiverem antes de palavras iniciadas pela letra “h” ou pela mesma letra final do prefixo. Como explicar, então, a grafia de reerguer, sem o hífen?
  • Base XVI, parágrafo 1º, item b
  • b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno.
  • Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.

Veja-se que, na observação acima, faz-se referência específica ao prefixo CO-. Infere-se, então, que o prefixo RE- deva seguir a regra geral.

Contudo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), da Academia Brasileira de Letras (ABL), publicado em janeiro de 2009, traz o termo sem hífen: reerguer.

No VOLP, também são grafados sem hífen inúmeros outros termos com prefixo RE- seguidos da letra E: reecoar; reencenar; reerguer; reedificar; reencetar; reerigir reeditar; reencher; reescalar; reeditorar; reencontrar; reescalonar; reeducar; reendereçar; reescravizar; etc. ...

O Acordo manda colocar o hífen, mas o dicionário da ABL o suprimiu. E agora, qual grafia é a correta?

Como cabe legalmente à ABL, por meio do VOLP, definir como são escritas as palavras na Língua Portuguesa usada no Brasil, conclui-se que o correto é o uso sem o hífen: REEGUER.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

ENSINO A DISTÂNCIA OU ENSINO À DISTÂNCIA?

A gramática ensina que as locuções adverbiais femininas serão sempre com a crase (à beira do caminho, à margem da vida, às escuras, às claras, à moda).

Ensina também que existem alguns casos excepcionais de uso da crase e dentre eles coloca o problema da palavra "distância": só terá a crase se estiver determinada com precisão: (O carro parou à distância de 45 metros do abismo; estava a distância e, por isso, não ouvi o chamado; fique a distância segura).

Como se percebe, uma recomendação contrapõe-se à outra.

Em geral, portanto, aceitam-se as duas formas (educação à distância - locução adverbial feminina; educação a distância - não há precisão estabelecida para a palavra 'distância').

quinta-feira, 24 de julho de 2014

A / HÁ

Na frase: “O usuário precisa estar sem sinal de internet a (ou há?) mais de dois dias para ser atendido”. Nesse caso, seria cabível empregar a preposição “a” ou a forma verbal “há”?

Em primeiro lugar, consideremos que a forma “há”, do verbo “haver”, indica tempo decorrido. Por esse motivo, são corretas construções como as seguintes: “Vivo em Brasília mais de quarenta anos”, “Estive em Londres dois anos”.

Da mesma forma, é a preposição “a” que usamos em construções como “Estávamos a três meses das eleições” (três meses antes do evento) ou “A posse será daqui a duas semanas” (duas semanas antes da posse). Note que não temos tempo decorrido, mas, contrariamente, um tempo futuro.

A frase em estudo, rigorosamente, não se enquadra em nenhuma dessas duas situações. A preposição “a” logo seria descartada, pois não há demarcação de intervalo (como há em “de hoje a sexta-feira”) nem projeção de tempo futuro (como há em “a três meses das eleições”). Como não se trata de tempo decorrido, já que o fato não se concretizou, também devemos descartar o uso do verbo “haver”.
Casos como esse são resolvidos pela mudança da forma a empregar.

Veja uma sugestão: “Para ser atendido, o usuário deve estar sem sinal de internet por mais de dois dias”.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

MALCRIADO / BEM-CRIADO

Pelas novas regras do novo acordo ortográfico, o prefixo bem leva hífen quando forma palavras começadas por vogal ou h e ainda nas palavras começadas por consoante e que têm sentido por si só (ex.: bem-estar, bem-humorado, bem-criado). Ora, pelas mesmas regras, o prefixo mal leva também hífen nas palavras começadas por vogal ou h (ex.: mal-estar, mal-humorado).
Qual é a razão de não se aplicar tal princípio à palavra malcriado, com processo de formação idêntico a bem-criado?

Os advérbios bem e mal, quando associados a outras palavras, não são prefixos, mas elementos de composição.

Sobre o uso de hífen com bem e mal, o novo Acordo Ortográfico determina o seguinte (base XV, 4):

4. Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf. malfalante), bem-mandado (cf. malmandado), bem-nascido (cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto).

Obs.: Em muitos compostos o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc.”


Sintetizando: com mal e bem não se verifica o uso sistemático do hífen, havendo muitas exceções advindas da tradição. O falante (redator) deve pesquisar sempre que houver dúvida sobre a grafia com esses advérbios.

sábado, 12 de julho de 2014

UM MILHÃO ESCOLHEU / ESCOLHERAM

Dadas as frases “Um milhão de clientes escolheram essa marca”. Ou “Um milhão de clientes escolheu essa marca”, qual é a correta?

Podemos afirmar que em ambos os casos a concordância ocorreu de forma adequada, visto que tanto o verbo pode permanecer no singular para concordar com “milhão” – que representa um substantivo masculino no singular, é a chamada “concordância gramatical” – ou pode ir para o plural, concordando atrativamente com o especificador “clientes”.

No caso de o verbo ser de ligação, a concordância deve ser feita, de preferência, com o especificador. Vejamos alguns exemplos:

  • Um milhão de recursos foram denegados pelo tribunal.
  • Um milhão de desabrigados serão alojados em centros comunitários.



sexta-feira, 11 de julho de 2014

DOIS GUARANÁS / DUAS GUARANÁS

A respeito da concordância nominal, devo dizer: “Quero duas guaraná Antártica” ou “Quero duas guaranás Antártica”?

Segundo as regras da concordância, os determinantes (artigos, numerais, pronomes possessivos e demonstrativos, adjetivos) assumem o número e o gênero dos nomes que determinam. Por conseguinte, o numeral antes de “guaraná” deve ser masculino, pois esse nome é do gênero masculino. 

“Quero dois guaranás Antártica” é o correto.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

SUCESSÓRIO A / SUCESSÓRIO DE

O adjetivo “sucessório” pede complemento regido de “de” ou de “a”?

A adjetivo "sucessório" nem mesmo está registrado no Dicionário de Regência de Francisco Fernandes e no de Celso P. Luft. Também nada está dito nas obras de Napoleão Mendes, de Celso Cunha e de Evanildo Bechara.

Problemas de regência nem sempre são fáceis de resolver, mas, na ausência de informações abalizadas, pode-se dar uma olhada no uso corrente e optar pelo mais frequente. Procedendo assim, percebe-se que é predominante a regência de “sucessório” com a preposição “a”:
  • “Não tem nenhuma razão de ser restringir a incidência do direito sucessório aos bens adquiridos onerosamente pelo de cujus na vigência da união estável”.
  • “Sendo um ramo da Casa de Bragança, as regras sucessórias ao trono imperial brasileiro seguem em muito as do trono real português...”.
  • “Começou para valer o processo sucessório à Presidência da República”.