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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O TREMA CAIU MESMO? NÃO SE USA MAIS?

Despedida do TREMA

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Vocês podem nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüiferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos.
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente fiquei de fora. Fui expulso para sempre do dicionário. Seus ingratos!
Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes! O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disseram que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto eles ficam em pé.
A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W e o Y: "KKK" p’ra cá, "www" p’ra lá, geração Y p’ra acolá...
Até o jogo da velha, para quem jamais se ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter. Chega de lamentação, mas estejam certos, seus moderninhos! Haverá conseqüências!
Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da Pasárgada; lá, fui amigo do rei. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão e para o finlandês, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não agüentarão. Permanecerei nos alfarrábios e nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.
Adeus,
Trema.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

SUJEITO PARTITIVO

Qual das concordâncias é a correta: “menos da metade dos doentes fazem tratamento” ou “menos da metade dos doentes faz tratamento”?

O sujeito partitivo, acompanhado de complemento plural, admite dois tipos de concordância verbal.

1) CONCORDÂNCIA GRAMATICAL – o verbo permanece no singular em conformidade com o núcleo do sujeito.

·    Na região, a maioria das crianças morre de inanição.

·    A minoria dos deputados esteve presente à sessão.

·    O jornal lamenta que a totalidade deles seja favorável à proposta.

2) CONCORDÂNCIA IDEOLÓGICA – o verbo vai para o plural em razão da ideia de pluralidade que a expressão toda transmite.

·    O grosso dos mantimentos perecem nos armazéns.

·    Em meio a grande confusão, os presos e seus reféns dirigiram-se ao auditório, enquanto a maioria deles corriam para as celas.

·    A metade dos melões foram desperdiçados por falta de embalagem adequada.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

REGÊNCIA - LOCUÇÃO PREPOSITIVA

Está correta a regência na frase “A petição deu entrada junto ao STF”?
 
O exato significado da expressão “junto” é perto de, ao lado de, próximo, perto. Em que pese essa constatação, a expressão junto a tem-se tornado, erradamente, um verdadeiro curinga, sendo usada para substituir diferentes preposições.
 
·    Petição dá entrada no STF.
·    Ronaldinho foi contratado do (e não "junto ao") Flamengo.
·    Cresceu muito o prestígio do programa entre os (e não "junto aos") telespectadores.
·    Era grande a sua dívida com o (e não "junto ao") condomínio.
·    A reclamação foi apresentada à (e não "junto a") Ouvidoria.

 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CONCORDÂNCIA COM PORCENTAGEM

A frase “80% dos brasileiros está descontente com o trânsito” está certa?
 
Não.
 
 
O sujeito representado por uma porcentagem em que a parte numérica é maior que 1 faz com que o verbo vá para o plural. Também o complemento plural, “brasileiros”, contribui para essa concordância.
O correto é “80% dos brasileiros estão descontentes com o trânsito”.
Quando o sujeito é uma porcentagem, seguida de um modificador, o verbo concordará com a porcentagem ou com o modificador (substantivo – pronome demonstrativo – pronome possessivo - etc.). É bom que se diga que a concordância “gramatical” é com o numeral da porcentagem e que a concordância com o complemento é mais próxima da linguagem coloquial. Assim, o uso de uma ou outra dependerá da preferência do falante e do contexto.
·    90% do procedimento criminoso enquadram-se no tipo de “continuidade delitiva”;
·    45% do corpo docente constitui-se de profissionais sem qualquer conhecimento pedagógico formal.
Nota: Existe a chamada “concordância siléptica”, em que o verbo concorda ideologicamente com o complemento da porcentagem: “No ataque ao inimigo, 10% do batalhão foi morto ou ferido”. A concordância aqui foi feita com o coletivo “batalhão”. Esse tipo de concordância, entretanto, é desaconselhado em textos jornalísticos, por demandar um conhecimento linguístico nem sempre presente no grande público.

ENTREGUE / ENTREGADO

Escreve-se “documentos anteriormente entregues pelo Departamento”, ou “documentos anteriormente entregados pelo Departamento”?

A norma indica o uso do particípio irregular — entregues —, pois trata-se de caso de uma construção passiva: “documentos ‘que foram’ anteriormente entregues pelo Departamento”

 Deveríamos usar “entregado”, se a frase estivesse na voz ativa, com o verbo auxiliar ter: “documentos que o Departamento tinha entregado anteriormente”.

Nota: Sobre o uso dos particípios (regular e irregular) dos verbos de duplo particípio, Celso Cunha e Lindley Cintra, em sua Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Sá da Costa, 2001, p. 441), dizem-nos que: “De regra, a forma regular emprega-se na constituição dos tempos da VOZ ATIVA, isto é, acompanhada dos auxiliares ter ou haver; a irregular usa-se, de preferência, na formação dos tempos da VOZ PASSIVA, ou seja, acompanhada do auxiliar ser.”


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

USO DO SUBJUNTIVO

Na frase “Os cientistas estimam que as espécies que só podem ser vistas com aparelhos especiais chegam a dez milhões...”, o emprego do verbo sublinhado está correto?
 
Observe-se que a frase expressa um “estimativa”, ou seja “uma possibilidade”. O modo verbal adequado para expressar “incerteza”, “dúvida” quanto à ocorrência da ação descrita é o Subjuntivo.
O correto, portanto, é usar-se esse modo verbal na frase da consulta: “Os cientistas estimam que as espécies que só podem ser vistas com aparelhos especiais cheguem a dez milhões...

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

PÔR / POR

A frase “O governo federal terá que, mais uma vez, por sua imaginação contábil à prova para fingir que atingiu a meta.” está correta?
Quanto ao significado ela está aparentemente correta, mas, observando atentamente, percebe-se que há um problema ocasionado pelo falta do acento gráfico na palavra “por”. Sem o acento, é a preposição “por” e a sequência fica com a semântica comprometida. Usando-se o acento, um dos poucos acentos diferenciais preservados pelo Acordo Ortográfico, é o infinitivo do verbo “pôr” (colocar – mais 51 acepções registradas no Houaiss) e a frase adquire significação: “O governo federal terá que, mais uma vez, pôr sua imaginação contábil à prova para fingir que atingiu a meta.” = “É necessário que o governo federal ponha sua imaginação contábil à prova...”.