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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O VALOR DA VÍRGULA

CONSULTA — USO DA VÍRGULA
Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria de quatro a sua procura. Como ficaria na ordem tradicional?

"A mulher andaria de quatro a sua procura se soubesse o valor que o homem tem." ou " O homem andaria de quatro a sua procura se soubesse o valor que a mulher tem."
Qual é a oração principal e a subordinada? E qual o tipo de subordinação?

RESPOSTA
A primeira oração “Se o homem soubesse o valor que tem” é uma oração subordinada adverbial condicional, isto é, estabelece uma premissa para que o outro fato se estabeleça.
A segunda oração “a mulher andaria de quatro a sua procura” é a principal, é o fato gerador da comunicação, mas só se materializará se a “condição” estabelecida pela subordinada efetivar-se, ou seja, “o homem tem de saber seu próprio valor (dele) para que a mulher ande de quatro a sua (dele) procura.

O período classifica-se como composto por subordinação.

A “ordem direta”, preferida pela língua portuguesa, manda que primeiro venha a principal e depois a subordinada: “A mulher andaria de quatro a sua procura, se o homem soubesse o valor que tem.

Como sabemos, a ordem direta é a preferida, mas não é a única. O falante, no caso o “escrevente”, pode mudar os termos de lugar, desde que aplique a pontuação corretamente.
O problema gerado prende-se ao uso do pronome possessivo “sua”, que tanto pode referir-se ao homem quanto à mulher. A vírgula depois de “tem”, entretanto, aclara o significado: o valor é do homem. Desloque-se a vírgula para depois de “mulher” e o significado muda de figura, mas não a classificação das orações e do período.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

REGÊNCIA NOMINAL

CONSULTA –

O que está errado em "Tenho certeza que ela será eleita"?

Temos dois verbos na frase (ter / ser), logo temos um período composto de duas orações.

Cada verbo compõe o núcleo de uma declaração: “Tenho certeza” e “que ela será eleita”. 

Falta alguma coisa na segunda oração, subordinada à primeira. Quem tem certeza, não tem certeza DE alguma coisa. Antes da segunda oração deveríamos encontrar esse DE.

A forma correta seria, então, “Tenho certeza DE que ela será eleita.”

Outros exemplos:
Tenho vontade DE que você estude mais. (vontade DE algo);
Tínhamos medo DE que você não volte mais. (medo DE algo).

domingo, 30 de janeiro de 2011

SUBSTANTIVOS EPICENOS

CONSULTA:

Como se faz o plural de “beija-flor”? E a flexão de gênero (masculino / feminino)?

RESPOSTA:

É um substantivo masculino, composto, constituído por verbo + substantivo. Quanto ao número, flexiona-se apenas o segundo elemento: “beija-flores”; não possui flexão de gênero (é um epiceno, isto é, uma única forma para designar os dois sexos), fazendo-se a designação do sexo (sexo não é gênero gramatical) do animal pelo acréscimo dos adjetivos macho / fêmea: o beija-flor macho / o beija-flor fêmea.

O gramático Napoleão Mendes de Almeida desenvolve, em sua Gramática Metódica, página 99, o seguinte raciocínio:

“Não nos admiremos da forma fêmeo; esta palavra, no caso presente, é adjetivo e, como tal, deverá flexionar-se de acordo com o gênero do substantivo a que se refere; o mesmo se observe com o adjetivo macho que, referindo-se a nomes femininos, deverá flexionar-se em macha. A pulga macha, flores machas, palmeira macha.”

A lógica da argumentação é irrefutável.

Apesar de os Dicionários A. Houaiss; Michaellis; C. Aulete e da ABL registrarem o termo “fêmeo”, os gramáticos Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa); Celso Cunha (Nova Gramática do Português Contemporâneo); Ernani Terra (Curso Prático de Gramática) e Ulisses Infante (Curso de Gramática Aplicada aos Textos) não fazem qualquer referência a seu emprego.

Quanto a exemplos do emprego prático desse tipo de concordância, temos:
  • Luiz Gonzaga: “Paraíba masculina, mulher macho sim senhor...”
  • Bocage: “Às minhas cinzas me farão descantes / Fêmeos vindouros, alargando as pernas.”
Não se admire, pois, das formas fêmeo e macha; são adjetivos e, como tal, deverão flexionar-se de acordo com o gênero do substantivo a que se referem. No entanto não há erro em dizer a fêmea do tubarão ou o tubarão fêmeo; o macho da baleia ou a baleia fêmea.

Já estão, entretanto, consagradas pelo uso popular, as expressões a baleia fêmea / macho; o tubarão fêmea / macho, quando se quer designar o sexo desses (e de outros) animais ou plantas.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Existe ponto depois de ETC.?

CONSULTA — Existe ponto depois de ETC.?
  • O "etc." é abreviatura de "et coetera", expressão latina que significa, mais ou menos, "e semelhantes". Não se deve usar a conjunção "e" antes do "etc.", pois ela já está na própria abreviatura. Também não se deve usar a vírgula antes de "etc.". As normas de emprego da vírgula estabelecem que "só se pode usar, opcionalmente, vírgula antes da conjunção aditiva "e", se a conjunção estiver entre orações com sujeitos diferentes.
  • Por ser abreviatura, deve terminar com ponto indicativo correspondente. Se for final de período e não houver nada mais a seguir, o ponto que encerra a abreviatura confunde-se com o ponto final e não há necessidade e nem razão para usarem-se dois pontos, um seguido do outro. O ponto final deve, portanto, coincidir como o de abreviatura; exceto se, por exemplo, este ponto está em uma frase parentética, entre aspas, etc., em que, então, o ponto final é obrigatório; exemplo: (….. etc.).
  • Quando ao ponto indicativo de abreviatura seguir outro sinal de pontuação, usam-se os dois: sra., sra.; sra.? REFERÊNCIA – MEIO ELETRÔNICO (disquetes, CD-ROM, online etc.).
Obrigado

Soteropolitano?

CONSULTA —
Por que os nascidos em Salvador são chamados de “soteropolitanos”?

RESPOSTA —

Trata-se de uma helenização, isto é, do uso de elementos vindos diretamente do grego. (soter+o+pólis+ano). Relativo a Salvador, capital do Estado da Bahia. Homem nascido nessa capital.
Etimologia: Soterópoli(s) + -t- + -ano, no padrão pólis:politano; Soteropólis (soter(i/o)- + -pólis) = 'cidade do Salvador'.

Também pode (e deve) ser usado o adjetivo gentílico “salvadorense”, de formação vernácula.

domingo, 23 de janeiro de 2011

VER / VIR

CONSULTA –
O que há de errado na expressão “Se você ver a Magnólia, dê-lhe meus parabéns”?

RESPOSTA –
O problema está no modo verbal da oração que abre o período. Veja que a partícula “se” estabelece um nexo “condicional”, pois é preciso que o receptor, eventualmente, “veja” a Magnólia, para lhe dar os parabéns. Nesse caso, a ação expressa na oração principal “... dê-lhe meus parabéns...” tem como condição a ação expressa na oração anterior (subordinada).

O tempo/modo verbal adequado será o futuro do subjuntivo. Tal tempo verbal deriva da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo: “eles(as) viram”, retirando-lhe a terminação “am”. Isso ocorre em todos, mas todos mesmo, os verbos portugueses.

Se (quando) eu vir / Se (quando) tu vires / Se (quando) ele vir / Se (quando) nós virmos / Se (quando) vós virdes / Se (quando) eles virem.

A frase correta será: “Se você vir a Magnólia, dê-lhe meus parabéns”.

Basta, pois, saber a conjugação do pretérito perfeito do indicativo para conjugar o futuro do subjuntivo (e mais dois tempos).

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pronúncia de "ab-rupto"

CONSULTA: Como é a pronúncia de “ab-rupto”?
Primeiro vejamos o significado e a origem do termo.

DICIONÁRIO CALDAS AULETE — Adjetivo
1. Que é inesperado; repentino: “Houve um aumento ab-rupto dos preços”.
2. Ríspido, indelicado: “Respondeu-me de maneira ab-rupta”.
3. Íngreme, escarpado.
[F.: Do lat. abruptus, a, um.
NOTA: Coloquialmente, a pronúncia usual é a. brup.to.]

DICIONÁRIO A. HOUAISSadjetivo
1. Em declive rápido ou de inclinação quase vertical; ab-ruptado, íngreme.
2. Derivação: sentido figurado: que ocorre de maneira súbita, inopinada.
3. Derivação: sentido figurado: de natureza ou caráter áspero, rude.

Etimologia
lat. abruptus,a,um 'separado, quebrado, rasgado, interrompido, precipitado'. Particípio passado de abrumpere 'quebrar, separar, interromper, destruir'; ver romp-
Na divisão silábica, sempre se conserva na sílaba anterior a consoante que não é seguida de vogal: ab-di-car, ac-ne, op-ção, as-tig-ma-tis-mo, sub-ju-gar, pig-meu, e-lip-se, ad-je-ti-vo.
Não se separam as consoantes que são pronunciadas conjuntamente, nem as dos dígrafos nh, ch, lh: a-bra-si-vo, a-con-che-go, tri-lho, bri-lho, ma-nhã, bi-cha-do, cri-vo, cra-vo.
Usa-se o hífen com os prefixos ab, ad e ob, quando o segundo elemento começa por um R que não se liga foneticamente1 ao B ou D anterior: ab-rogar, ab-rogação, ab-rupto, ad-renal, ob-reptício
1 — São aqueles grupos consonantais formados naturalmente por b + r, como em brando – brinco – cobra – dobra – timbre – brusco – debruçar – abraçar – abrir – abreviar – abrutalhar – etc.

SOLUÇÃO: a pronúncia correta de “ab-rupto” é com o /b/ separado do /r/; a linguagem coloquial admite pronunciar-se /b/ e /r/ conjuntamente.