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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Futuro do Pretérito

CONSULTA
Está certo escrever assim: “Arruda seria reeleito porque os adversários seriam incapazes de competir com suas realizações.”?

RESPOSTA
A pergunta, na verdade, resume-se a “Qual é a função principal do futuro do pretérito?

Observa-se que é comum encontrarmos textos com esta construção: De acordo com o delegado, o pedido da prisão preventiva ocorreu porque o acusado teria ameaçado algumas testemunhas.” Podemos presumir, portanto, que o delegado tem a faculdade de pedir a prisão preventiva de alguém apenas supondo que um crime ou contravenção poderá acontecer?


O futuro do pretérito é usado para indicar que o emissor trata de uma ação futura dependente de outra ação (presente – passada – futura). Na verdade, ele, o emissor, exime-se da responsabilidade sobre o que afirma. É com se dissesse que “pode ser que tal fato ocorra, desde que tais ou quais condições estejam presentes”.

Muita gente usa o futuro do pretérito, temendo a acusação de difundir inverdades.
  • “O senador teria feito uma emenda ao orçamento, favorecendo a ONG dirigida por sua amante.”
  • “Luxemburgo seria demitido porque não teria empatia com a torcida.”
  • “A embaixatriz recusar-se-ia a fazer o teste do bafômetro, alegando imunidades diplomáticas”.
Ora, a “emenda ao orçamento” é ou não materializada, independentemente de suas motivações; o pobre do Luxemburgo foi demitido e não se sabe (ou sabe-se bem) a razão ou as razões disso; a embaixatriz “recusou” o teste do bafômetro.

O correto para as frases é:
  • “O senador fez uma emenda ao orçamento, que favoreceria a ONG dirigida por sua amante.”
  • “Luxemburgo foi demitido porque não teria empatia com a torcida.”
  • “A embaixatriz recusou-se a fazer o teste do bafômetro, alegando imunidades diplomáticas”.
Nos três casos citados, partimos da hipótese de fatos já ocorridos, logo a relação foi estabelecida entre o futuro do pretérito e o pretérito perfeito do indicativo, entretanto outras relações temporais podem ser estabelecidas, como, por exemplo, em:

  • “O senador faria uma emenda ao orçamento, se favorecesse a ONG dirigida por sua amante.”
  • “Luxemburgo seria demitido caso não desenvolvesse empatia com a torcida.”
  • “A embaixatriz recusar-se-ia a fazer o teste do bafômetro, se pudesse alegar imunidades diplomáticas”.
NOTA
Antes da Nomenclatura Gramatical Brasileira (1961), esse tempo verbal era chamado de “condicional”. Considero que esse nome era mais adequado ao entendimento desse aspecto gramatical do emprego dos verbos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

CONCORDÂNCIA NOMINAL


CONSULTA

O que eu quero escrever é que um determinado comando aloca uma matriz (determinado espaço em memória assim designado) para receber posteriormente os valores vindos da imagem original e outra para receber os valores vindos da imagem codificada.

"Alocar matrizes para receber imagens original e codificada".

RESPOSTA
Temos aqui o caso de uma palavra (imagem) modificada por dois determinantes (original e codificada). Quando isso ocorre, a palavra determinada pode ficar no singular ou ir para o plural e os determinantes podem ou não estar precedidos de artigos.
·    Receber imagem original e modificada.
·    Receber imagens original e modificada.
·    Receber a imagem original e a modificada.
·    Receber as imagens original e modificada.

Todos estão corretos. Acredito que a fórmula “Receber a imagem original e a modificada” atende melhor aos requisitos da clareza e da simplicidade da expressão.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

REGÊNCIA VERBAL - ATENDER


O verbo “atender” pede complemento direto ou indireto?

Segundo o Dicionário de Verbos e Regimes, de Francisco Fernandes, depende do sentido de seu emprego.

Significando dar, prestar atenção, considerar deve ser empregado como transitivo indireto.
  • Atendeu a minhas indicações. 
  • Atendia à população necessitada. 
  • Mais de trinta milhões de doses para atender a esse contingente de risco.
Significando ouvir, acolher, deve ser empregado como transitivo direto.
  • Atenda os meus conselhos. 
  • Atendemos o requerente em sua solicitação. 
  • Atender o Ministério Público é castrar a autonomia política conquistada.
Como ouvir e acolher significam o mesmo que prestar atenção e considerar, conclui-se que a regência direta ou indireta é opcional, depende da vontade de quem escreve ou fala. Como sou partidário da maior simplificação possível, prefiro a regência direta.
  • Atenderemos o pedido na próxima semana.
  • Atenderemos quaisquer pedidos via internet. 
  • Lamento não poder atender a solicitação de recursos. 
  • A reitoria atendeu as reivindicações. 
  • O juiz atendeu o requerimento. 
  • O Papa atenderá os peregrinos. 
  • Não vou atender nenhum dos conselhos, mas somente minha intuição.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

FLEXÃO DO NUMERAL

CONSULTA — FLEXÃO DO NUMERAL

A frase "DOIS MILHÕES, QUINHENTOS (masculino) E SESSENTA E DOIS MIL, NOVECENTOS (masculino) E SESSENTA E TRÊS PESSOAS (feminino)" está certa?

Quanto ao gênero, dos cardinais só variam um (vinte e uma mil laranjas), dois (quarenta duas mil toneladas) e as centenas de duzentos em diante (duzentas, trezentas, seiscentas,...).

Milhão, bilhão, trilhão etc. funcionam como substantivos masculinos. Quando seguidos de outro cardinal, continuam masculinos, mas os que seguem flexionam-se normalmente.

Exemplos:
Três milhões de laranjas.
Oito milhões, quinhentas e quarenta e sete mil e duzentas lindas e encantadoras mulheres.
Quatro milhões, quatrocentas e quarenta e quatro mil, setecentas e duas laranjas.
Cinco milhões, duzentos e vinte e dois mil, quinhentos e trinta e cinco eleitores.

Dessa forma, a frase proposta deve ser grafada assim:
"DOIS MILHÕES, QUINHENTAS (feminino) E SESSENTA E DUAS (feminino) MIL, NOVECENTAS (feminino) E SESSENTA E TRÊS PESSOAS (feminino)".
O “dois” está no masculino para concordar em gênero com o substantivo “milhões”; as formas femininas estão a concordar com o substantivo “pessoas”.

PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO

CONSULTA: Quando e como se usa o pretérito mais-que-perfeito do indicativo?

Essa flexão é usada quando nos referimos a uma ação ocorrida ANTES de outra ação já passada.

Exemplos:
A forma simples da primeira e da terceira pessoas do singular do pretérito mais-que-perfeito de "vencer" é "vencera".
Eu vencera / ele(a) vencera.
A forma composta é "tinha (ou "havia') vencido".
Eu tinha (havia) vencido / ele(a) tinha (havia) vencido.

As duas formas são válidas. Ultimamente (de uns quarenta anos para cá) tem predominado a forma composta, mais por deficiência do ensino que por qualquer outro motivo.

Observe:
“Emerenciana chegou ao trabalho às 09h30” / “O relógio de ponto travou às 09h35”. Se juntarmos os dois fatos em um só período, devemos estabelecer o aspecto temporal entre eles. Poderemos dizer que “Emerenciana chegou ao trabalho cinco minutos antes de o relógio travar” / “O relógio de ponto travou cinco minutos depois de Emerenciana chegar ao trabalho”.

Usando a pretérito mais-que-perfeito, bastaria dizer que “Emerenciana chegara há cinco minutos, quando o relógio travou” ou “Emerenciana tinha (havia) chegado quando o relógio travou”.

Na verdade, essa preferência pela forma composta contraria a “lei do menor esforço”, pois gasta-se mais energia para pronunciar (ou escrever) “tinha (havia) chegado” que simplesmente “chegara”.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vultoso ou vultuoso?


Gastos são vultosos ou vultuosos?

A implantação das UPPs implica vultuosos/vultosos dispêndios financeiros.

O adjetivo correto para “uma grande soma em dinheiro” é vultosa e não vultuosa.

São significantes muito parecidos (parônimos) – Vultuoso é a condição de quem tem alguma parte da face (olhos, nariz, lábios) inchados ou salientes. “Depois da briga, os contendores apresentavam os lábios, os olhos e as faces vultuosos, em razão dos golpes recebidos”.

Aquilo que é volumoso, avultado (de vulto) ou grande, considerável, importante é “vultoso” (o termo é formado do substantivo “vulto” acrescido do sufixo “-oso”). “Vultoso contingente de miseráveis deslocava-se penosamente pela estrada íngreme”.

Veja, abaixo, o texto corrigido:
A implantação das UPPs implica vultosos dispêndios financeiros.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Gastado ou Gasto?


...DENUNCIADO POR TER GASTADO, EM DOIS MIL E SETE...” ou “...DENUNCIADO POR TER GASTO, EM DOIS MIL E SETE...” Como se deve usar?

Há uma série de verbos na língua portuguesa, chamados abundantes, que têm duas ou mais formas equivalentes. E isso ocorre principalmente no particípio. Assim, existem gastado e gasto; imprimido e impresso; elegido e eleito; suspendido e suspenso; aceitado e aceito(e); entregado e entregue; matado e morto; expulsado e expulso, etc

Agora, veja como recorrer a uma ou a outra forma.
·    
 Nas locuções com os verbos TER ou HAVER, devemos usar os particípios regulares (terminados em -ado/-ido): tinha aceitado, havia suspendido, tinha ganhado, havia gastado, tinha pagado;
·    
 Após os verbos SER ou ESTAR, devemos usar os particípios irregulares: foi aceite, estava suspenso, fora ganho, era gasto, será pago;
·    Veja alguns exemplos:
o  Tinha (havia) gastado, imprimido, matado, ganhado, suspendido, acendido etc.
o  Foi (estava) gasto, impresso, morto, ganho, suspenso, aceso etc.

Em sua frase, o uso correto seria "...DENUNCIADO POR TER GASTADO, EM DOIS MIL E SETE...".