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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

REGÊNCIA VERBAL - ATENDER


O verbo “atender” pede complemento direto ou indireto?

Segundo o Dicionário de Verbos e Regimes, de Francisco Fernandes, depende do sentido de seu emprego.

Significando dar, prestar atenção, considerar deve ser empregado como transitivo indireto.
  • Atendeu a minhas indicações. 
  • Atendia à população necessitada. 
  • Mais de trinta milhões de doses para atender a esse contingente de risco.
Significando ouvir, acolher, deve ser empregado como transitivo direto.
  • Atenda os meus conselhos. 
  • Atendemos o requerente em sua solicitação. 
  • Atender o Ministério Público é castrar a autonomia política conquistada.
Como ouvir e acolher significam o mesmo que prestar atenção e considerar, conclui-se que a regência direta ou indireta é opcional, depende da vontade de quem escreve ou fala. Como sou partidário da maior simplificação possível, prefiro a regência direta.
  • Atenderemos o pedido na próxima semana.
  • Atenderemos quaisquer pedidos via internet. 
  • Lamento não poder atender a solicitação de recursos. 
  • A reitoria atendeu as reivindicações. 
  • O juiz atendeu o requerimento. 
  • O Papa atenderá os peregrinos. 
  • Não vou atender nenhum dos conselhos, mas somente minha intuição.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

FLEXÃO DO NUMERAL

CONSULTA — FLEXÃO DO NUMERAL

A frase "DOIS MILHÕES, QUINHENTOS (masculino) E SESSENTA E DOIS MIL, NOVECENTOS (masculino) E SESSENTA E TRÊS PESSOAS (feminino)" está certa?

Quanto ao gênero, dos cardinais só variam um (vinte e uma mil laranjas), dois (quarenta duas mil toneladas) e as centenas de duzentos em diante (duzentas, trezentas, seiscentas,...).

Milhão, bilhão, trilhão etc. funcionam como substantivos masculinos. Quando seguidos de outro cardinal, continuam masculinos, mas os que seguem flexionam-se normalmente.

Exemplos:
Três milhões de laranjas.
Oito milhões, quinhentas e quarenta e sete mil e duzentas lindas e encantadoras mulheres.
Quatro milhões, quatrocentas e quarenta e quatro mil, setecentas e duas laranjas.
Cinco milhões, duzentos e vinte e dois mil, quinhentos e trinta e cinco eleitores.

Dessa forma, a frase proposta deve ser grafada assim:
"DOIS MILHÕES, QUINHENTAS (feminino) E SESSENTA E DUAS (feminino) MIL, NOVECENTAS (feminino) E SESSENTA E TRÊS PESSOAS (feminino)".
O “dois” está no masculino para concordar em gênero com o substantivo “milhões”; as formas femininas estão a concordar com o substantivo “pessoas”.

PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO

CONSULTA: Quando e como se usa o pretérito mais-que-perfeito do indicativo?

Essa flexão é usada quando nos referimos a uma ação ocorrida ANTES de outra ação já passada.

Exemplos:
A forma simples da primeira e da terceira pessoas do singular do pretérito mais-que-perfeito de "vencer" é "vencera".
Eu vencera / ele(a) vencera.
A forma composta é "tinha (ou "havia') vencido".
Eu tinha (havia) vencido / ele(a) tinha (havia) vencido.

As duas formas são válidas. Ultimamente (de uns quarenta anos para cá) tem predominado a forma composta, mais por deficiência do ensino que por qualquer outro motivo.

Observe:
“Emerenciana chegou ao trabalho às 09h30” / “O relógio de ponto travou às 09h35”. Se juntarmos os dois fatos em um só período, devemos estabelecer o aspecto temporal entre eles. Poderemos dizer que “Emerenciana chegou ao trabalho cinco minutos antes de o relógio travar” / “O relógio de ponto travou cinco minutos depois de Emerenciana chegar ao trabalho”.

Usando a pretérito mais-que-perfeito, bastaria dizer que “Emerenciana chegara há cinco minutos, quando o relógio travou” ou “Emerenciana tinha (havia) chegado quando o relógio travou”.

Na verdade, essa preferência pela forma composta contraria a “lei do menor esforço”, pois gasta-se mais energia para pronunciar (ou escrever) “tinha (havia) chegado” que simplesmente “chegara”.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vultoso ou vultuoso?


Gastos são vultosos ou vultuosos?

A implantação das UPPs implica vultuosos/vultosos dispêndios financeiros.

O adjetivo correto para “uma grande soma em dinheiro” é vultosa e não vultuosa.

São significantes muito parecidos (parônimos) – Vultuoso é a condição de quem tem alguma parte da face (olhos, nariz, lábios) inchados ou salientes. “Depois da briga, os contendores apresentavam os lábios, os olhos e as faces vultuosos, em razão dos golpes recebidos”.

Aquilo que é volumoso, avultado (de vulto) ou grande, considerável, importante é “vultoso” (o termo é formado do substantivo “vulto” acrescido do sufixo “-oso”). “Vultoso contingente de miseráveis deslocava-se penosamente pela estrada íngreme”.

Veja, abaixo, o texto corrigido:
A implantação das UPPs implica vultosos dispêndios financeiros.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Gastado ou Gasto?


...DENUNCIADO POR TER GASTADO, EM DOIS MIL E SETE...” ou “...DENUNCIADO POR TER GASTO, EM DOIS MIL E SETE...” Como se deve usar?

Há uma série de verbos na língua portuguesa, chamados abundantes, que têm duas ou mais formas equivalentes. E isso ocorre principalmente no particípio. Assim, existem gastado e gasto; imprimido e impresso; elegido e eleito; suspendido e suspenso; aceitado e aceito(e); entregado e entregue; matado e morto; expulsado e expulso, etc

Agora, veja como recorrer a uma ou a outra forma.
·    
 Nas locuções com os verbos TER ou HAVER, devemos usar os particípios regulares (terminados em -ado/-ido): tinha aceitado, havia suspendido, tinha ganhado, havia gastado, tinha pagado;
·    
 Após os verbos SER ou ESTAR, devemos usar os particípios irregulares: foi aceite, estava suspenso, fora ganho, era gasto, será pago;
·    Veja alguns exemplos:
o  Tinha (havia) gastado, imprimido, matado, ganhado, suspendido, acendido etc.
o  Foi (estava) gasto, impresso, morto, ganho, suspenso, aceso etc.

Em sua frase, o uso correto seria "...DENUNCIADO POR TER GASTADO, EM DOIS MIL E SETE...".

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ESTE OU ESSE?

CONSULTA

Este ou esse?
“O projeto será examinado por uma comissão. Esta comissão tem a incumbência de definir sua viabilidade e apresentar suas conclusões por meio de um relatório. Este relatório será enviado a todos os interessados no desenvolvimento das ações propostas.”

São frequentes as dúvidas causadas pelo emprego dos pronomes demonstrativos “este” / “esse” e suas variações.

Tais pronomes demonstrativos funcionam como determinantes de nomes (substantivos – adjetivos – advérbios), que já foram ou serão citados no discurso (texto / fala). De uma forma geral, a “posição” que tais termos ocupam é que determina se devemos usar “st” ou “ss”.

O pronome demonstrativo será um “anafórico” se apontar para algo que já foi mencionado e, nesse caso, deverá ser grafado com “ss”; será um “catafórico” se antecipar algo que ainda será dito e, então, deverá ser grafado com “st”.

No fragmento em epígrafe, o termo comissão, linha 1, é retomado na linha 2 e o demonstrativo deveria ser escrito com “ss”; o mesmo ocorre com o termo relatório, na linha 4.

Pode ocorrer a retomada de uma ideia com outro termo, o que também leva ao uso das formas com “ss”, como em “ofendiam-se, brigavam com os colegas e desrespeitavam os professores que os repreendiam. Lamentavelmente, esse comportamento era relevado pela direção da escola”.

Os pronomes demonstrativos com “st” referem a algo que ainda será dito adiante. Por exemplo: “O fato é este: a gestão das escolas tem de ser exercida por diretores profissionais”.

domingo, 14 de novembro de 2010

USO DO INFINITIVO



“O síndico quer impedir as crianças de brincar (ou de brincarem)”?

RESPOSTA
As duas formas são gramaticais.

O infinito pessoal, flexão verbal do infinitivo, que também se verifica no dialeto galego, de fato não existia no latim. Sua origem é discutível: uns reputam-no criado em português, flexionando o infinitivo impessoal; outros, originado no imperfeito do conjuntivo latino.

Para muitos gramáticos, o uso do infinitivo flexionado apenas tem relevância contextual, na medida em que se quer precisar o sujeito da ação descrita pelo verbo, mormente nos casos dos verbos causativos (deixar, mandar, fazer).

O uso do infinitivo pessoal é uma forma própria e estilística da língua portuguesa.

Em “Representa um claro benefício para os alunos que têm a vantagem de estudar na rede pública” e “Apareceu uma rede de lojas, a dominar, o comércio de confecções”, não há qualquer incorreção gramatical. Elas revelam o estilo próprio dos autores.

Se a primeira frase fosse: “Representa um claro benefício para os alunos que têm a vantagem de estudarem na rede pública...”, haveria um maior relevo para “os alunos”. Se a segunda frase fosse “Apareceu-me uma rede de lojas, a dominarem o comércio de confecções...”, haveria mais dinamismo na descrição porque reforçaria a dinâmica de “lojas”.

Cabe, portanto, a cada um escolher a forma que prefere. Eu prefiro o uso do infinitivo não flexionado, por parecer-me mais “enxuto” e, por isso, tornar o texto mais leve.